18 Abr, 2023

Utentes dizem que qualidade dos serviços no SNS baixou, sobretudo na acessibilidade

Os dados de um estudo que vai ser apresentado hoje indicam que quase 50% da população considera que o tempo de espera na urgência piorou, assim como para as cirurgias (mais de 30%) e para as consultas (quase 40%).

A perceção dos utentes quanto à evolução do Serviço Nacional de Saúde na última década é positiva, mas esta ideia não é acompanhada pelo julgamento que fazem dos tempos de espera para consultas, exames e urgências, que consideram ter piorado. Segundo o Índice de Saúde Sustentável, desenvolvido pela Nova Information Management School (Nova IMS) e que hoje é apresentado em Lisboa, 38% considera que, relativamente ao que se passava há 10 anos, o SNS está melhor, mas as listas de espera não tiveram uma evolução positiva.

O estudo, que pela primeira vez este ano apresenta dados sobre a perceção dos portugueses relativamente à evolução do SNS na última década e expectativas para os próximos 10 anos, indica que 47,8% considera que os tempos de espera nas urgências são maiores, 31,3% diz que a espera para cirurgias piorou e 37,3% tem a mesma opinião quanto à espera para consultas. “As pessoas, de uma forma geral, consideram que o SNS evoluiu positivamente, mais de 60% considera que evoluiu positivamente, mas depois, quando olhamos para os tempos de espera, quer do ponto de vista das consultas, das cirurgias ou das urgências, (…) a grande maioria pensa que piorou”, explicou à Lusa Pedro Simões Coelho.

O investigador fala de uma dualidade nos resultados, explicando: “Há um SNS que globalmente está melhor, mas que está pior em termos dos tempos de espera”. Os dados indicam que os portugueses consideram que atualmente existe maior expectativa para resolver os problemas de saúde do que há 10 anos, o que justificam sobretudo pela existência de melhores meios de diagnóstico e de medicamentos mais inovadores.

No caso dos portugueses que consideram que atualmente existe menor expectativa para resolver os problemas de saúde, o tempo de atendimento mais lento contribui maioritariamente para essa perceção. Quase metade (48,6%) considera que, atualmente, o SNS está mais vocacionado para prevenir futuras doenças, essencialmente por ter melhores meios de diagnóstico (65,4%) e medicamentos mais inovadores (44%). Os 15% que dizem que o SNS está menos vocacionado para a prevenção de doenças futuras apontam como principal motivo a lentidão no atendimento (51,1%).

Mais de metade (53,6%) dos portugueses acederam no último ano a cuidados de saúde como forma de prevenção da doença, e não por se sentir doente. Mais de três em cada quatro (82,2%) consideram que têm informação suficiente sobre o seu estado de saúde e sobre o que devem fazer para prevenir uma doença e a maioria defende que o investimento nos profissionais de saúde (61,6%) deverá ser uma das prioridades do SNS, seguido das instalações e equipamentos (32,9%).

O estudo indica ainda que a qualidade percecionada sobre o SNS pode aumentar 16 pontos caso o utente tenha médico de família (+11,4 pontos), esteja associado a uma Unidade de Saúde Familiar (+2,5) e procure cuidados de saúde por prevenção (+2,2). “Isto mostra que o tema dos cuidados primários e o tema das formas de organização do SNS são muito importantes para podermos criar aqui uma mudança de paradigma do sistema”, considera o investigador, acrescentando que, para se conseguir retirar das urgências quem não precisa de lá ir, “é preciso ter uma porta de entrada nos cuidados primários que seja satisfatória para as pessoas”.

Outro dado relevante é o facto de um em cada 10 portugueses não ter comprado no ano passado alguns dos medicamentos prescritos pelo médico por causa do custo, um valor que aumentou face ao ano anterior. De acordo com o estudo, 89% dos portugueses tomaram algum medicamento prescrito por um médico em 2022, mas o custo dos medicamentos fez com que 10% tivessem optado por não comprar algum dos fármacos prescritos.

Globalmente, os utentes continuam a considerar o preço do Serviço Nacional de Saúde (SNS) adequado, mas também têm uma perceção do valor das taxas moderadoras que é superior ao valor real, não sabendo que, nalguns casos, estas já não são pagas. As consultas com médico de família no centro de saúde já não são pagas, mas os utentes continuam a achar que custam um valor próximo dos 3€, o mesmo acontecendo nas consultas externas / especialidade nos hospitais públicos, que estimam custar 7€.

LUSA

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