“Também se morre por falta de órgãos vitais”. Sociedade de Transplantação alerta para nível de assistência a doentes

A Sociedade de Transplantação defende que os hospitais com unidades de transplantes devem organizar-se para manter os níveis de assistência a este grupo de doentes de risco.

Numa carta aberta a que a agência Lusa teve acesso, a SPT defende que o transplante considerado urgente se deve manter, “pesando o risco de vida do doente e avaliando caso a caso” e recorda: “É importante ter presente que se morre por infeção de covid-19, mas também se morre por falta de órgãos vitais”.

“Portugal possui unidades de referência de excelência e pauta-se por estar na linha da frente na doação e na transplantação”, sublinha a SPT, considerando que, mesmo que estejam na linha da frente na luta contra a covid-19, os hospitais que integram unidades de transplantação devem organizar-se para manterem níveis de assistência “a este grupo de doentes de risco acrescido devido à terapêutica imunossupressora”.

“No contexto atual é difícil avaliar os danos colaterais nos doentes que têm a infelicidade de ser acometidos por eventos de saúde agudos ou portadores de doenças crónicas”, considera a SPT, referindo-se especificamente aos doentes transplantados ou à espera de transplante.

Quando esta situação for ultrapassada – frisa – “perceberemos o que neste momento se encontra oculto pela voracidade dos números diários dos doentes infetados ou de perdas de vida por infeção covid-19”.

 

No futuro, “saberemos os números dos falecimentos, provavelmente subestimados, dos outros doentes

 

Nessa altura, “saberemos os números dos falecimentos, provavelmente subestimados, dos outros doentes que continuam a existir”, acrescenta a SPT.

Para reduzir os riscos de infeção e manter a assistência a estes doentes, seguindo orientações das sociedades internacionais, a SPT defende que devem ser criados circuitos hospitalares alternativos aos de doentes covid-19 para os doentes transplantados que possam ter episódios agudos e precisem de avaliação presencial.

Diz ainda que se deve programar o fornecimento de medicação hospitalar em horários restritos ou por marcação direta com os serviços farmacêuticos, ou mesmo através de entrega ao domicílio, alargando os intervalos de entrega.

Outra das medidas defendidas pela Sociedade Portuguesa de Transplantação é manter asseguradas, nos internamentos destes doentes, as coberturas médicas e cirúrgicas para eventuais episódios agudos e para os transplantes urgentes que neste período possam vir a ocorrer.

Diz também que se devem organizar as consultas de seguimento em doentes estáveis, privilegiando o atendimento não presencial e com contacto telefónico.

“As administrações hospitalares devem, com as chefias intermédias e médicos diretamente implicados na assistência, que melhor do que ninguém conhecem as especificidades destes doentes e que já têm todos os mecanismos multidisciplinares articulados, instituir estes procedimentos”, defende a SPT.

Sublinha que as alterações “devem ser transmitidas aos doentes de forma clara, para que não se gerem mal-entendidos”.

A transferência das atenções para os doentes com covid-19 “é compreensível para assegurar a capacidade de resposta aos doentes já internados e para futuras necessidades”, mas “terão como consequência a diminuição de sinalização de potenciais dadores”, alerta.

A posição da SPT surge um dia depois de o bastonário da Ordem dos Médicos ter apelado formalmente ao Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Central (CHULC) para que sejam criados circuitos independentes no Curry Cabral, onde funciona o Centro Hepato-bilio-pancreático).

SO/LUSA

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