24 Fev, 2021

Sem orientações, regiões usam diferentes critérios de chamada para vacinação

Em Lisboa, utentes são chamados de forma aleatória, o que não acontece noutras regiões do país. Centros de saúde ainda aguardam critério da DGS.

À falta de orientações claras da DGS, os centros de saúde não estão a seguir os mesmos critérios de prioridade na vacinação em todo o país. No Norte, no Centro e no Algarve estão a ser convocadas primeiro os utentes mais velhos, enquanto em Lisboa o critério de escolha é aleatório (ou seja, uma pessoa com 50 anos e com uma doença de risco associada pode ser chamada antes de um utente com 90 anos, por exemplo).

Uma vez que não existe um critério definido a nível nacional, a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo determinou que a seleção “fosse feita de forma automática e aleatória na região” e as pessoas são convocadas “à medida que as vacinas vão sendo rececionadas”.

Já na região Norte, a ARS  explica que a seleção é feita de acordo com a idade: “da idade maior (por exemplo, 90 ou mais) para a menor (até 80)”. O mesmo critério se aplica para o grupo de pessoas com mais de 50 e com comorbilidades. No Centro, o critério é semelhante, sendo a priorização feita por “ordem decrescente de idade”.

Quanto ao Algarve, a ARS local prioriza também a idade mas ressalva que os centros de saúde devem também ter em conta “a gravidade das comorbilidades associadas”.

“Estamos ainda à espera de um critério uniforme vindo da DGS”, critica Nuno Jacinto, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar e médico na USF Salus, em Évora. No Alentejo, diz ao SaúdeOnline, está a ser dada prioridade às pessoas mais velhas. “Parece-me que é o critério que garante maior justiça a este processo. Não é fácil priorizar condições clínicas diferentes. Não se trata de um critério ser melhor do que o outro. Tem é de haver um”, diz.

Na norma sobre vacinação contra a covid-19, a DGS não define uma forma de priorizar dentro destes dois grupos (pessoas com mais de 80 anos e pessoas com mais de 50 anos e doença grave associada), deixando assim a questão ao critério das ARS. A DGS refere apenas que cabe aos agrupamentos dos centros de saúde (ACES) proceder “ao agendamento da vacinação e à convocatória”.

Ao SaúdeOnline, o médico de família António Alvim não defende nenhum dos dois critérios e considera que se deveria optar por uma seleção mais personalizada. “Devem ser priorizados nesta fase os idosos com problemas associados e não começar pelos idosos de forma aleatória”, diz. Por outro lado, o médico ressalva que pode fazer sentido que, por exemplo, uma pessoa com 60 anos e com insuficiência cardíaca seja vacinada antes de um idoso com 80 anos saudável. “O critério deve variar em função do risco” de cada utente, completa.

António Alvim sublinha que, nesta fase, deveriam também ter sido incluídas as pessoas com diabetes e obesidade, “dois grandes fatores de risco”.

No caso da USF Rodrigues Miguéis, em Lisboa, onde António Alvim trabalha, ainda só houve um dia de vacinação. E, como apenas chegaram vacinas da AstraZeneca (desaconselhada para maiores de 65 anos), só foram inoculadas pessoas entre os 50 e os 64 anos.

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