10 Nov, 2020

“Referenciação para as consultas esbarra em listas de espera de oito meses”

O presidente da PSO Portugal fala sobre as dificuldades dos doentes psoriáticos e identifica a referenciação para as consultas de Dermatologia como um dos maiores entraves no acesso à terapêutica mais eficaz e segura.

 “Não é uma doença que mate diretamente, mas tira anos de vida”, reconhece Jaime Melancia, presidente da associação que representa os doentes com psoríase, a PSO Portugal. É a ele e à associação que chegam muitas histórias de quem vive com esta patologia que vai muito além da pele. “Não sendo uma simples doença de pele, é uma doença inflamatória, crónica, sistémica que pode ter implicações em vários órgãos e ter outras comorbilidades associadas, nomeadamente a doença cardiovascular”, sublinha, mas para a qual já existe resposta terapêutica alargada, com fármacos de última geração.

“Há muita inovação com novos medicamentos e, hoje em dia, qualquer psoríase pode ser tratada e é bom que os doentes não desistam e não se resignem à sua doença”, sublinha. Apesar disso, o certo é que dos cerca de 200 a 250 mil doentes com psoríase que se estima existirem no país, apenas 100 a 120 mil estão a receber tratamento, e alguns nem estão a receber a terapêutica mais adequada ao seu quadro clínico.

Por trás desta disparidade nos números, nas palavras do dirigente, está em grande medida a dificuldade dos doentes em aceder às consultas de Dermatologia e, consequentemente, ao tratamento mais adequado. “A referenciação para as consultas de especialidade esbarra em listas de espera que rondam os oito meses” e o facto de os centros mais especializados estarem, em muitos casos, concentrados nas grandes cidades obrigam os doentes a deslocações longas e com encargos financeiros que os levam muitas vezes a desistir do acompanhamento e dos tratamentos de dispensa hospitalar. “São entraves a que as pessoas muitas vezes sigam a terapêutica que devem seguir e acabam por desistir das terapêuticas por estas dificuldades económicas”, reforça.

Nos cuidados de saúde primários, relata ainda Jaime Melancia, a Dermatologia continua a ser “o parente pobre” que nem todos os médicos de família seguem com a especificidade necessária, remetendo os doentes para tratamentos mais clássicos, mas também menos eficazes.

Apesar destes constrangimentos, o presidente da PSO Portugal incentiva os doentes a não desistirem de procurar a terapêutica mais adequada, que lhes permite “ter uma qualidade de vida melhor”, de forma a “entrar num círculo virtuoso de controlo da doença e não num círculo vicioso de problema arrasta problema”.

 

Psoríase em tempo de pandemia por SARS-CoV2

 

Uma das primeiras notícias sobre as mortes causadas pela pandemia do novo coronavírus foi a de um jovem de 14 anos de Ovar que morreu em março no hospital em Santa Maria da Feira e que tinha psoríase.

Se os doentes psoriáticos, a lidarem com uma doença sistémica e a receberem terapêuticas imunossupressoras, já andavam alarmados com a circulação do novo coronavírus, mais ficaram com a divulgação deste trágico caso e muitos foram os que procuraram a PSO Portugal a dar conta das suas preocupações, como relata Jaime Melancia.

A tomada de posição do Grupo Português de Psoríase sobre os tratamentos biológicos e não biológicos para a psoríase, aconselhando a não interrupção dos tratamentos e “a explicar que os doentes de psoríase não têm mais risco do que as outras pessoas de contrair a doença [Covid-19]” foi fundamental para trazer tranquilidade aos doentes durante estes meses em que a pandemia faz parte do dia-a-dia de todos.

O dirigente da associação também elogia a solução encontrada pelos hospitais, em conjunto com a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Farmacêuticos e a Associação Nacional de Farmácias para possibilitar o reencaminhamento da terapêutica de dispensa hospitalar para as farmácias de oficina mais perto dos utentes. “Funcionou muito bem”, relata Jaime Melancia, ao ponto de já existir um grupo de trabalho a estudar quais as possibilidades de manutenção desse sistema.

A teleconsulta e o acompanhamento telefónico dos doentes durante os meses de confinamento foram igualmente importantes para garantir a continuidade do seguimento e os bons resultados estimularam a PSO Portugal a dar continuidade a um projeto de teleconsultas que quer implementar para diminuir as restrições de acesso a consultas de Dermatologia.

RV/SO

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