25 Nov, 2022

Reabilitação respiratória. “Estamos muito aquém das necessidades”

O número de doentes em reabilitação respiratória e em lista de espera "é francamente inferior ao expectável", sublinha a diretora do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias da DGS. Em entrevista, Cristina Bárbara defende o envolvimento dos municípios e dos centros de saúde nesta área.

Em que ponto se encontra a reabilitação respiratória de doentes com DPOC em Portugal?

Esta foi das áreas mais afetadas pela covid-19. Antes da pandemia, e à semelhança de outros países, a oferta de cuidados de reabilitação respiratória era diminuta em relação à quantidade de doentes com doenças respiratórias crónicas que dela necessitam. Para além disso, estava sediada essencialmente a nível hospitalar.  Por este motivo, quando houve necessidade de reorganizar os serviços hospitalares devido à pandemia, uma das áreas mais afetadas foi esta, porque, por um lado, muitos espaços de serviços de reabilitação respiratória foram reconvertidos em enfermarias para doentes covid, e, por outro, as técnicas de reabilitação respiratória não podiam ser feitas como até então – porque são técnicas que implicam aerossolização de partículas e que poderiam promover a disseminação do vírus.

Neste momento, a reabilitação respiratória chega a que percentagem dos doentes que deveriam ter acesso a ela?

Não lhe consigo dizer. Antes da covid, tínhamos 2800 doentes a fazer reabilitação respiratória em ambiente hospitalar e agora temos menos cem.  Estes números resultam de um inquérito que fizemos o mês passado a todos Serviços de Pneumologia do país. Em lista de espera, havia cerca de 600 a 700 doentes. Isto é francamente inferior ao expectável se pensarmos que, em Portugal, há 600 mil doentes com DPOC (ainda que só uma pequena parte destes estejam diagnosticados nos cuidados de saúde primários). E, de entre os que estão diagnosticados, nem todos têm indicação para fazer reabilitação hospitalar, que está destinada aos doentes mais graves.

Portanto, estamos muito aquém das necessidades do país. Há muitos poucos serviços de ambulatório com competência para fazer reabilitação respiratória adequada. A visão do Programa Nacional para as Doenças Respiratórias é de que os doentes graves e complexos devem ser tratados em ambiente hospitalar, enquanto os doentes não complexos devem ser tratados em ambulatório. Em 2016, foi publicado um despacho, pelo Dr. Fernando Araújo, que dizia que, até ao final do ano seguinte, todos os agrupamentos de centros de saúde deveriam estar habilitados a prestar reabilitação respiratória, uma vez que é altamente eficaz.

Neste momento, há algum ACES a realizar reabilitação respiratória?

Há zonas onde os médicos de família já fazem, como Vila Franca de Xira, um parte do Algarve, em Matosinhos. Mas temos de ter vários parceiros e não só o SNS. As regiões e municípios podem envolver-se nesta área, desde que se habilitem com técnicos competentes: fisioterapeutas e os enfermeiros de reabilitação, que não existem em quantidade suficiente nem a nível hospitalar nem a nível dos cuidados de saúde primários. Esta não tem de ser uma tarefa exclusiva do SNS.

Que medidas são prioritárias no sentido de aumentar o acesso dos doentes à reabilitação respiratória?

A primeira é o diagnóstico dos doentes. Os nossos cuidados de saúde primários são competentes para o fazer. Temos de aumentar a rede de espirometrias para aumentar também o número de diagnósticos.

Por outro lado, para os cuidados de saúde primários poderem fazer reabilitação respiratória, precisam de ter os técnicos adequados.

Depois, temos de pensar fora da caixa. Nem todas as soluções são iguais para todas as regiões. O país anda a velocidades diferentes. Pode haver zonas onde os municípios se possam envolver e outras em que os cuidados de saúde primários o façam. No entanto, para realizarem a reabilitação respiratória em segurança, devem articular-se com a pneumologia da sua rede de referenciação hospitalar. A pandemia permitiu a criação de redes virtuais de integração de cuidados entre a Pneumologia e os cuidados de saúde primários.

SO

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