Reabilitação: a Importância na Jornada do Doente com Tumor Cerebral
Enfermeira Especialista em Reabilitação dedicada à área Oncológica Membro da direção da AICSO – Associação de Investigação e Cuidados de Suporte em Oncologia

Reabilitação: a Importância na Jornada do Doente com Tumor Cerebral

Quando penso em reabilitação tenho sempre presente como esta é importante em vários momentos da vida das pessoas. A reabilitação surge associada a alturas em que esperamos recuperar e/ ou restaurar algo que, por trauma ou doença, nos foi tirado. Ela acaba por ser uma intervenção essencial para que a vida seja mantida com qualidade e compromisso.

Qualquer um de nós já teve essa experiência ou pelo menos conhece alguém que teve de realizar algum tipo de reabilitação para recuperar ou pelo menos melhorar a sua funcionalidade.

Quando associada à doença oncológica, o enquadramento da reabilitação foi estabelecido por Dietz nos anos 80. Esta diz respeito a uma subespecialidade da medicina física e de reabilitação cujo foco é restaurar e manter a funcionalidade, independência e qualidade de vida dos doentes nos diferentes estadios de doença oncológica. Esta definição engloba os doentes que estão em tratamento (curativo ou paliativo), tendo ou não doença ativa, bem como aqueles que vivem para além do cancro, não estando de momento a realizar qualquer terapêutica.

Assim, independentemente do prognóstico, as pessoas que vivem com e para além do cancro poderão ser elegíveis para reabilitação preventiva, restauradora, de suporte ou paliativa.

No caso da pessoa com tumor cerebral, o impacto da reabilitação pode ser visto no resultado funcional que esta intervenção pode trazer e ao nível da recuperação do comprometimento neurológico. Tal como acontece com a Doença Vascular Cerebral, também os tumores cerebrais poderão estar associados a sintomas semelhantes: comprometimento cognitivo, disfunção motora, disfunção sensorial, ataxia, disfagia, afasia e défices de perceção visual. A reabilitação pode ter um papel fundamental em cada um desses sintomas, através de uma equipa multidisciplinar estruturada e dedicada. Para tal, contribuem terapeutas da fala, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos, nutricionistas, diferentes especialidades médicas (neurocirurgia, oncologia médica, neurologia, radioncologia, fisiatria…), enfermeiros generalistas e especialistas, dedicados à reabilitação e à área oncológica.

A pessoa com tumor cerebral pode apresentar sintomas e incapacidades que poderão ter resposta através de um programa de reabilitação. Este terá de ter subjacente as características do tumor (localização e o grau), duração e dose de tratamento e a saúde da pessoa no geral e os seus défices.

Na recuperação pós-cirúrgica, sendo este um período crítico, o papel da reabilitação irá focar-se na recuperação precoce, de preferência ainda em internamento, e apoiar a pessoa e cuidador a implementar estratégias de continuidade para o período pós-alta. A prevenção de contraturas, o uso de técnicas que facilitem o retorno motor, a marcha e atividades de treino de vida diária, a diminuição do risco de queda e traumatismos, estratégias compensatórias e equipamentos adaptativos são preocupações da equipa nesta fase do tratamento. Não é tarefa fácil, pois dependendo da lesão e estrutura afetada, o espectro de défices a dar resposta pode ser extremamente desafiante. Também durante a quimioterapia e radioterapia a reabilitação pode ser importante, por um lado, para dar continuidade à reabilitação iniciada previamente e por outro para tentar abordar sintomas que possam surgir de novo, nomeadamente a fadiga induzida por estas terapias. A fraqueza muscular e o equilíbrio podem ser melhoradas através de programas de exercício personalizados, de acordo com capacidade individual e objetivos traçados.

Mesmo após os tratamentos, numa fase já de seguimento, a reabilitação deve manter-se presente, como intervenção assumida pelo doente e o cuidador, sobre como se manter ativo, colocando ênfase na qualidade de vida e na obtenção de melhores resultados mesmo nas atividades mais simples do dia-a-dia.

Mesmo numa fase mais avançada, em contexto paliativo, não podemos colocar a reabilitação de parte. Aliás, esta deve ser encarada com o máximo interesse, cujo objetivo último será o alívio de sintomas, como por exemplo a dor e as contraturas musculares.

Assim, ao longo da jornada dos doentes com tumores cerebrais, a reabilitação irá promover a autonomia, segurança e bem-estar, e fazer presente o cuidador ou o profissional, que através do movimento encontra um caminho para confortar a pessoa com cancro.

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