11 Dez, 2020

PrEP. Acesso à medicação que previne a infeção por VIH continua limitado

A infeciologista Teresa Branco aponta as principais barreiras à generalização da PrEP, numa altura em que apenas 10% da população elegível tem acesso à medicação que previne a infeção por VIH.

O acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) está indicada para pessoas que se encontrem em maior risco de virem a ser infetadas com VIH. Contudo, permanecem vários obstáculos, que impedem o acesso a esta terapêutica profilática. Ao SaúdeOnline, a infeciologista Teresa Branco sublinha que o “maior desafio será ultrapassar as regras atualmente em vigor”.

“Não se entende a manutenção de um programa centralizado nos hospitais e a regra de fornecimento mensal da terapêutica. A abertura do programa a outros contextos, nomeadamente às organizações de base comunitária e a possibilidade de fornecimento da medicação para três meses, à semelhança do que se passa com o tratamento da infeção VIH, já deveriam ter sido implementadas”, critica a presidente da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da Sida (APECS).

A especialista refere que as condições atuais de acesso à PrEP seriam aceitáveis num contexto experimental, fase que já foi ultrapassada. “A realidade foi a cristalização de regras que, não anulando o objetivo final, o tornam pesado e dificultam a sua operacionalidade”, sublinha.

Estas barreiras levam a que o número de pessoas a receber PrEP esteja muito aquém do desejável. Apenas cerca de 1.500 pessoas estão a receber medicação profilática quando, estima o director-executivo do GAT, Ricardo Fernandes, poderiam beneficiar da PrEPentre 10 a 15 mil pessoas de elevado risco. Já Isabel Aldir, directora do Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida, fala em 12 mil potenciais elegíveis. Este ano, o objetivo seria atingir as 7500 em PrEP, mas a pandemia veio dificultar o acesso às consultas hospitalares.

 

Hospital Amadora-Sintra não tem consulta de PrEP

 

No entanto, as dificuldades de acesso já existiam antes da pandemia, admite Teresa Branco, “nomeadamente pela escassez de centros com consulta de PrEP”. Atualmente, cerca de 20 hospitais disponibilizam este tipo de consulta em todo o país. Não é o caso do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, onde a infeciologista trabalha e que serve uma área onde se concentra muito população imigrante, uma das mais atingidas pela infeção.

A admissão está muitas vezes condicionada por uma lista de espera. Outras vezes é necessário recorrer a consultas longe do local de residência ou de trabalho, o que a longo prazo representa um esforço enorme, que resulta em abandono”, lamenta Teresa Branco.

“Não podemos dar PrEP durante uns meses e depois perder o seguimento dessa pessoa, porque a pessoa com os mesmos comportamentos de risco vai acabar por infetar-se”, alerta.

Junta-se a isto, sublinha a especialista, a falta de recursos humanos, que são “atualmente impossíveis de recrutar”.

Para além da descentralização da consulta, que permitiria acompanhar as pessoas mais perto da sua área de residência (diminuindo a taxa de abandono e ajudando a travar as cadeias de transmissão), a infeciologista considera importante que se comece a utilizar a terapêutica injetável, “com a vantagem de uma proteção muito mais prolongada (meses)”.

Também a dispensa de PrEP nas farmácias poderia ajudar a aproximar o tratamento profilático das comunidades. Contudo, alerta Teresa Branco, “seria necessário articular esta dispensa com o controlo clínico, que é fundamental”.

TC/SO

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