14 Dez, 2021

“Preocupante”. Dezenas de vagas do internato médico ficaram por ocupar

Sobraram cerca de 50 vagas, o que acontece pela primeira vez desde que há mais candidatos que vagas disponíveis, sublinha a Federação Nacional dos Médicos.

Cinquenta vagas para formação médica especializada ficaram por preencher no concurso para o Internato Médico que terminou no início do mês, em especialidades como saúde pública, medicina interna, medicina geral e familiar, estomatologia, patologia clinica e imuno-hemoterapia.

Segundo a Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS), dos 2.260 médicos habilitados ao processo de escolhas de vaga para formação especializada, mais de 80% (1.871) foram colocados e 389 faltaram ou desistiram.

Numa informação enviada à agência Lusa, a ACSS acrescenta que uma das principais razões que justificaram as ausências se prende com “a intenção de mudança de especialidade ou local de formação” e que alguns dos médicos que integravam o processo atual realizaram a Prova Nacional de Acesso 2021 no passado dia 17 de novembro, adiando assim a escolha de especialidade para o final do próximo ano.

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) considera a situação “extremamente preocupante”. “Pela primeira vez, desde que há mais candidatos que vagas disponíveis no processo de escolha de especialidade, sobraram cerca de 50 vagas, não sendo escolhidas pelos mais de 500 médicos que estariam em condições de o fazer”, afirma a FNAM, em comunicado.

Os dados da ACSS indicam ainda que em 2021 tinham sido disponibilizadas 1.867 vagas, que foram ocupadas na totalidade, tal como tinha acontecido desde 2016.

O Sindicato Independente dos Médicos adianta que ficaram ainda por ocupar 31 vagas de Medicina Interna (10 das quais no Centro Hospitalar de Lisboa Norte) e 14 de Medicina Geral e Familiar (9 delas na ARSLVT).

Ao problema do contingente de médicos sem formação especializada – sublinha – “acresce agora o problema destes médicos, que optam por não continuar a sua formação especializada no Serviço Nacional de Saúde (SNS), apesar de existirem capacidades formativas”.

A FNAM diz que uma das principais razões para esta situação é a “falta de condições de trabalho, transversal a todo o SNS”, que se reflete “na formação específica dos médicos”.

“Desde 2009, com a empresarialização dos hospitais e o início dos contratos individuais de trabalho, a desvalorização das carreiras médicas tem vindo a agravar-se, levando a que profissionais altamente qualificados abandonem o SNS, colocando em causa a formação dos novos médicos”.

Por outro lado – acrescenta -, “as fusões hospitalares levaram a que as instalações físicas não tenham as adequadas condições de trabalho”.

A federação aponta igualmente o surgimento de “novas e preocupantes” zonas carenciadas, “muito pouco atrativas aos jovens médicos considerando as condições oferecidas”.

A “falta de motivação e descrédito crescente” numa carreira no SNS e a “existência de opções consideradas mais atrativas, nomeadamente na medicina privada e no estrangeiro”, são outras das razões apontadas.

“A responsabilidade da degradação das condições de trabalho nos serviços do SNS é do Ministério da Saúde, das administrações hospitalares e dos diretores clínicos nomeados”, considera a federação.

A FNAM fala ainda de “degradação da formação durante o internato, com um número de urgências excessivas, o desrespeito pelo descanso, orientadores de formação sobrecarregados e sem tempo de dedicação para esta tarefa” e diz que estas situações devem “alertar e desencadear a intervenção das instituições responsáveis pela qualidade da formação médica”.

“É urgente inverter o rumo desta política de saúde que coloca em causa os alicerces do SNS”, conclui.

SO/LUSA

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