“Portugal passou das piores posições da Europa para uma das melhores do mundo, em Saúde Materno-Infantil”
Fátima Faustino, presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia e membro da Comissão Científica do COGI - World Congress on Controversies in Obstetrics, Gynecology & Infertility, destaca o impacto do congresso na partilha global de conhecimento, abordando temas inovadores como a Inteligência Artificial na Ginecologia e a Robótica na Cirurgia. A ginecologista reforça os avanços de Portugal em Saúde Materno-Infantil e os desafios enfrentados pela especialidade, como a falta de investimento em investigação.
Qual é a importância do COGI para a Ginecologia a nível global e de que forma impacta a prática médica em Portugal?
Sendo um congresso internacional e o facto de abordar temas controversos permite uma vasta e importante partilha de conhecimentos, sem dúvida impactantes não só para a prática médica em Portugal como também em qualquer dos cerca de 85 países participantes.
Quais são as principais inovações ou temas que vão ser abordados no COGI?
Um dos temas inovadores é a aplicação clínica da Inteligência Artificial em áreas especificas da Ginecologia e da Medicina da Reprodução. Também as novas tecnologias sobretudo a Robótica na área da cirurgia ginecológica minimamente invasiva. Na vertente da Medicina da Reprodução, os avanços no diagnóstico genético pré-implantação. Outros temas que me chamaram a atenção foram a insuficiência ovárica prematura, o problema da obesidade epidémica e da gravidez em idades tardias.
Têm-se verificado muitos avanços?
Verifica-se muita investigação em curso na área da Genética e da Imunologia e os avanços têm sido relevantes na área da Robótica e da Inteligência Artificial.
Portugal está ao mesmo nível dos outros países?
Comparando os nossos dados com outros países podemos verificar que, Portugal passou de uma das piores posições da Europa para uma das melhores do mundo, em Saúde Materno-Infantil.
Mas, na vertente científica e de investigação, temos ainda um longo caminho a percorrer, sobretudo por falta de investimento nesta área.
Quais são os desafios mais significativos que a Ginecologia enfrenta atualmente em Portugal?
Na realidade, sendo uma especialidade conjunta é difícil dissociar a Ginecologia da Medicina Materno-Fetal e nesta área muitos têm sido os problemas sobretudo a nível de recursos humanos e dinamização das unidades de atendimento urgente.
No entanto, penso que as condições hospitalares, o acesso aos cuidados de saúde e a humanização dos mesmos melhorou significativamente ao longo dos anos. Apesar das dificuldades apontadas continuo a acreditar que todos os profissionais de saúde que trabalham nesta área, seja no SNS ou a nível privado, tudo fazem para melhorar o bem-estar materno e a saúde do recém-nascido.
Em relação à Ginecologia a minha perceção é de que as mulheres estão mais atentas às suas queixas e que a aceitação de certos “mitos” já não se faz com a mesma facilidade. Com amplo acesso a informação divulgada através da Internet, quer seja boa ou má, a vantagem de levantar dúvidas leva-as até ao profissional de saúde, permitindo a agilização dos rastreios mais importantes como por exemplo, do cancro da mama e do colo do útero.
Como presidente da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, quais são as suas prioridades e preocupações para os próximos anos?
Ao aceitar este mandato como presidente da SPG assumi a enorme responsabilidade de continuar o excelente trabalho dos meus antecessores, manter o nível científico em todas as atividades da sociedade e acompanhar o desenvolvimento tecnológico visando o futuro.
Neste sentido, um dos meus objetivos é atrair os mais jovens para uma participação mais ativa, em que a sua dinâmica possa acrescentar uma mais-valia às nossas iniciativas e que aliada à experiência dos mais velhos possa contribuir para um avanço qualitativo na formação pós-graduada, na atualização científica e na evolução técnica.
Outro objetivo é unir as diferentes secções e núcleos com as suas especificidades nas áreas respetivas, de modo a conseguirmos uma sociedade estruturada e abrangente, que represente todos os ginecologistas com competência, dignidade e reconhecida quer a nível nacional, quer internacional.
É membro da Comissão Científica do COGI. Como está a ser a experiência?
Sem dúvida uma honra e uma experiência gratificante a nível de partilha de conhecimentos e de enorme responsabilidade na avaliação dos resumos científicos enviados para decisão daqueles que irão ser apresentados em comunicação oral. Esta experiência irá completar-se com a moderação de uma sessão de Ginecologia e outra de comunicações orais.
Sílvia Malheiro
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