14 Fev, 2022

Pedopsiquiatria. Tempos de espera para consultas são cada vez maiores

O aumento da procura não é acompanhado pelo aumento da capacidade de resposta. Faltam recursos humanos e apoio multidisciplinar.

Com o aumento da procura de cuidados de saúde mental para crianças e adolescentes, também os tempos de espera para primeiras consultas de especialidade são cada vez maiores. O acréscimo de pedidos que chegam às urgências, a referenciação feita por outros serviços de saúde e a falta de recursos humanos limitam a capacidade de resposta, confirmam vários médicos ao Público.

O tempo de espera para uma primeira consulta já varia entre os três meses e os oito meses. No Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, a espera é de seis meses, no São João, no Porto, é de três meses e meio e em Braga chega a oito meses.

“Estamos numa pandemia de doença mental em crianças e jovens. Estamos com a maior lista de espera para primeira consulta em todas as faixas etárias (dos 0 aos 17 anos), a afluência ao serviço de urgência tem sido a maior de sempre”, segundo revela a médica do Hospital de Dona Estefânia, Neide Urbano, ao Público.

Após a diminuição da procura no primeiro confinamento, os pedidos de ajuda voltaram a aumentar desde o Verão do ano passado. No que concerne aos tempos de espera, “anteriormente [à pandemia] estariam entre dois e três meses na adolescência”, garante o diretor do serviço de pedopsiquiatria do mesmo hospital, Pedro Caldeira da Silva.

“A pandemia não trouxe nada de bom para a saúde mental dos adolescentes. Os jovens que já tinham doença psiquiátrica pioraram na maioria dos casos, e nos jovens que já tinham uma certa vulnerabilidade desenvolveram doença mental, devido aos fatores de stress adicional da pandemia, como a diminuição da interação com os pares, exacerbação dos conflitos familiares, a exposição a violência familiar, luto familiar nalguns casos, dificuldades económicas”, diz Neide Urbano.

Ainda assim, apesar do “aumento muito grande de casos de ansiedade e de sintomas depressivos”, acompanhado por uma maior sensibilização para os problemas de saúde mental, “os serviços são os mesmos e a resposta é a mesma”, isto é, insuficiente, alerta Pedro Caldeira da Silva, que aponta a falta de médicos, terapeutas ocupacionais e outros técnicos no seu serviço.

“Há poucos pedopsiquiatras e ainda menos de outros técnicos. É uma das frentes para os próximos anos, completar as equipas que existem neste momento”, afirma o diretor do Programa Nacional para a Saúde Mental (PNSM), Miguel Xavier, acrescentando que a região do Algarve é a mais carenciada.

SO

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