Obesidade no jovem adulto como fator de risco para tromboembolismo venoso
Assistente Hospitalar de Medicina Interna no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte - Hospital de Santa Maria

Obesidade no jovem adulto como fator de risco para tromboembolismo venoso

As manifestações mais frequentes de tromboembolismo venoso (TEV) são a trombose venosa profunda dos membros inferiores e o tromboembolismo pulmonar. Os fatores de risco são divididos em dois grupos: hereditários ou adquiridos e, muitas vezes, atuam em conjunto. Muitos doentes com TEV apresentam mais do que um fator predisponente em simultâneo. A obesidade representa não só um fator de risco para um primeiro episódio de TEV, assim como contribui para um risco aumentado de recorrência de TEV quando o tratamento com anticoagulação é descontinuado.

O tecido adiposo, um importante biomarcador de obesidade, influencia não só o peso corporal mas também a resistência à insulina, o perfil lipídico, a pressão arterial, a coagulação, a fibrinólise e a inflamação, conduzindo a disfunção endotelial e à aterosclerose. Assim, um índice de massa corporal (IMC) elevado é identificado como um fator de risco para TEV. Eventualmente, a obesidade central poderá ser um melhor indicador de risco para TEV que a obesidade global, mas mais estudos serão necessários.

Uma vez que a prevalência da obesidade continua a aumentar, com estimativa de mais de 650 milhões de adultos afetados em todo o mundo, é prioritário abordar este assunto sobretudo nos jovens adultos, de forma a se atuar o mais rápido possível e modificar estilos de vida. Sabe-se que há um maior impacto para o risco de TEV em homens e mulheres, sobretudo abaixo dos 40 anos de idade.

A obesidade também parece ser um fator contribuinte para aumentar o risco de TEV em doentes com outros fatores de risco prévios, nomeadamente em doentes com mutação do Fator V de Leiden ou mutação G20210A no gene da protrombina. Ainda, o risco de TEV está aumentado em doentes com obesidade e que realizam uma viagem de longa duração ou mulheres com obesidade e que tomam contracetivos orais. Estas podem ter um risco trombóticos 24 vezes superior comparando com mulheres com IMC normal e que não tomem estes fármacos.

O aumento do risco de TEV em doentes com um IMC elevado é particularmente mediado pela resistência do fator VIII à proteína C ativada. Este aumento de risco ainda é mais pronunciado em doentes com outras causas de resistência à proteína C ativada como portadores da mutação do Fator V de Leiden ou presença de grupo sanguíneo não 0.

O tratamento de um evento de TEV num doente obeso é desafiante sobretudo para doentes com IMC > 40 Kg/m2 ou > 120 Kg. Os anticoagulantes orais de ação direta são a primeira opção de tratamento nos doentes com TEV e obesidade e a extensão de tratamento nestes doentes é recomendada dado o risco de recorrência de TEV após a sua suspensão.

Quando se aborda a obesidade deve ter-se em consideração que é uma doença crónica e que constitui como um fator de risco para inúmeras doenças cardiovasculares, não só no território arterial mas também no venoso. Assim, torna-se urgente identificar a obesidade como um problema de saúde pública.

 

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