“O tratamento da dor pode ser otimizado com segurança nos doentes mais idosos”

Tratamento da dor crónica em idosos deve iniciar-se com estratégias não farmacológicas e, caso seja necessário, os opioides podem ser uma opção segura.

O controlo da dor crónica pode ser otimizado com segurança se for estabelecido um plano terapêutico que equilibre os riscos e os benefícios dos tratamentos, descreve um artigo da publicação Mayo Clinic Proceedings. Segundo os autores, o tratamento da dor crónica é alcançado de forma mais eficaz quando estratégias farmacológicas e terapias não medicamentosas são usadas ao mesmo tempo.

De acordo com o Dr. Brandon Verdoorn, geriatra e internista da Clínica Mayo, “a dor crónica é muito comum em idosos e geralmente está associada a outros problemas, como depressão, insónia, isolamento social e baixa qualidade de vida” e, acrescenta, “embora, geralmente, não seja curável, a dor pode ser gerida com uma abordagem sistemática que começa com uma avaliação completa da dor, seguida pelo reconhecimento e tratamento das condições que contribuem para a existência de dor“.

No plano do tratamento, a ênfase deve estar nas estratégias iniciais de baixo risco para lidar com a dor, que normalmente incluem opções não invasivas e não farmacológicas, diz o Dr. Verdoorn, coautor do artigo com a Dr.ª Christina Y. Chen, também geriatra e internista da Mayo Clinic. “Praticamente todos os pacientes podem beneficiar dessas opções de baixo risco”, refere o especialista.

Por seu lado, a Dr.ª Christina Y. Chen lembra que pode ser questionado “se os analgésicos podem ser usados ​​com segurança em adultos mais idosos”. “Essa é uma pergunta oportuna, dada a crise dos opioides [nos Estados Unidos da América]. Embora muitos medicamentos usados ​​para tratar a dor crónica possam ter impactos adversos substanciais, é importante ter em mente que os idosos também são afetados por uma epidemia de dor. Quando usados criteriosamente, esses medicamentos, incluindo opioides, são ferramentas importantes para lidar com a dor crónica, que tantas vezes afeta a independência de uma pessoa.

O artigo da Mayo Clinic Proceedings oferece algoritmo prático, passo a passo, que pode ajudar os profissionais a fazerem a abordagem do tratamento da dor crónica em doentes idosos.  Nesses passos, a abordagem ao doente deve iniciar-se com uma avaliação completa da dor, centrando-se nas funções que são afetadas pela dor, seguindo-se uma avaliação das possíveis condições associadas ao estado doloroso, como a depressão e a insónia.

De acordo com os autores, a terapêutica deve iniciar-se com estratégias consideradas de baixo risco, incluindo métodos que não incluam fármacos e que envolvam os doentes no próprio tratamento.

Só depois deve evoluir-se para as estratégias de alto risco, nomeadamente as farmacológicas, que devem ser sempre reavaliadas e interrompidas se não atingirem os outcomes esperados ou se forem observados efeitos secundários relevantes.

Os autores também dissipam no artigo algumas crenças comuns – e imprecisas ou enganosas – sobre os efeitos dos medicamentos para a dor em nos doentes mais idosos, como o facto de os medicamentos opioides estarem associados a casos de delírio e ao aumento das quedas. “Apesar da sabedoria convencional, a ideia de que os opioides causam quedas não é apoiada pela evidência atual“, referiu o Dr. Verdoorn, embora reconheçam que os opioides parecem aumentar o risco de fratura quando ocorre uma queda. Isso pode afetar a estratégia de tratamento da dor em pacientes que sofreram quedas ou estão em risco de cair.

Apesar de os conceitos explanados no artigo não serem novos, a Dr.ª Chen refere que a intenção da publicação “é fornecer uma ferramenta útil para, no consultório, ajudar a orientar o tratamento da dor crónica. Com uma abordagem cuidadosa e sistemática, o tratamento da dor pode ser otimizado com segurança nos doentes mais idosos.

RV/ScienceMag

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