“O sentimento de solidão é um problema social e da área médica”

A solidão vista como uma nova síndrome geriátrica foi um dos temas do 42.º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia. Stella Bettencourt da Câmara, vogal da Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia, faz um balanço do evento.

Foram cerca de 500 os participantes do 42.º Congresso Português de Geriatria e Gerontologia, que teve lugar entre 23 e 25 de novembro, em Lisboa. Organizado pelo Sociedade Portuguesa de Geriatria e Gerontologia (SPGG), o evento “multidisciplinar” abordou vários temas relacionados com o envelhecimento.

Uma das temáticas foi a solidão vista como uma nova síndrome geriátrica, como defendeu José Navarro, presidente da Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia, que participou por videoconferência. Para Stella Bettencourt da Câmara, esta visão tem todo o sentido. “A solidão tem um forte impacto na saúde e existe evidência de que a solidão mata mais que as doenças cardiovasculares”, sublinha a responsável, que também é docente e investigadora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa.

A investigadora dá o exemplo das ERPI, onde pessoas mais velhas institucionalizadas lidam diariamente com a solidão, apesar de conviverem com pessoas. “Nem sempre se identificam com os seus pares, por isso, mesmo nestas instituições é preciso estar-se atento a estas necessidades”, reforça.

Como acrescenta: “Pode-se estar só mesmo estando acompanhado; o que conta é o sentimento.”

Para se evitar o impacto desta nova síndrome geriátrica é preciso começar-se a criar redes sociais que evitem este sentimento, o que inclui um estreitamento das relações intergeracionais. “A solidão também é um problema dos mais novos, além disso o envelhecimento é um processo que tem de ser preparado ao longo dos anos e não apenas a partir dos 65 anos”, diz.

Sendo o envelhecimento um “direito universal”, este deve ser “com qualidade”, ao contrário do que se verifica atualmente em Portugal. “Para que se tenha mais anos de vida sem solidão e com melhor saúde é preciso ir-se acautelando várias questões: económicas, de saúde e sociais.”

Em suma, “o sentimento de solidão é um problema social mas também da área médica, face às implicações diretas na saúde global das pessoas mais velhas”.

Ainda relativamente ao Congresso, Stella Bettencourt da Câmara realçou que foi “um momento de debate” entre diferentes grupos profissionais em torno das várias questões inerentes à Geriatria e à Gerontologia. A gerontóloga destaca ainda “o diálogo entre a academia e a comunidade, a única forma de se conseguir a mudança para um envelhecimento sustentável” e o enfoque no tema “Gerociências” por parte do presidente da IAGG – International Association of Geriatrics and Gerontology, José Jaurégui.

Recorde-se que o Congresso da SPGG reúne, todos os anos, profissionais de diferentes setores para abordar os problemas do envelhecimento, tais como médicos, enfermeiros, psicólogos, gerontólogos, sociólogos, assistentes sociais, investigadores, cuidadores, entre outros.

Este ano o tema central foi “Pessoas mais velhas resilientes num mundo em mudança”.

SO

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