28 Fev, 2023

“O cancro do ovário é habitualmente diagnosticado em mulheres na menopausa”

Em entrevista, Mónica Nave, oncologista do Hospital da Luz Lisboa, afirma que o cancro do ovário surge, habitualmente, após os 50 anos, em mulheres na menopausa. Segundo a especialista, trata-se do 8.º tipo de cancro mais comuns entre as mulheres. Contudo, é ainda diagnosticado tardiamente por, raramente, dar sintomas numa fase inicial.

Foto: MédicoNews

Como tem evoluído e como se espera que evolua nos próximos anos a incidência de casos de cancro do ovário?

Globalmente, o cancro do ovário é o 8.º tipo de cancro mais comum entre as mulheres. Em Portugal, no ano de 2020, foram diagnosticados cerca de 560 novos casos. A incidência parece estar a diminuir, bem como a mortalidade e estas são muito boas notícias; no entanto, e por isto mesmo, a prevalência tem vindo a aumentar, ou seja, o número de mulheres com cancro do ovário diagnosticado está a aumentar.

Quais os principais sinais de alerta para esta doença? Há algum sintoma distintivo?

O cancro do ovário é uma doença que raramente dá sintomas numa fase inicial (apenas 20-25% das doentes são diagnosticadas em fase inicial). Mesmo numa fase avançada, os sintomas podem ser inespecíficos, ou seja, podem ser sintomas que existem noutras doenças, até em doenças benignas. Os sintomas mais comuns são: aumento do volume abdominal, dor abdominal e/ou pélvica, sensação de enfartamento, queixas urinárias, cansaço, perda de peso involuntária e alterações do trânsito intestinal face ao padrão habitual. Como estes sintomas podem ocorrer noutras situações, o mais importante é a mulher estar atenta a sintomas que surjam de novo e, sobretudo, que persistam.

“O cancro do ovário é uma doença que raramente dá sintomas numa fase inicial (apenas 20-25% das doentes são diagnosticadas em fase inicial).”

Como é feito o diagnóstico do cancro do ovário? Existe um elevado grau de subdiagnóstico?

Não há propriamente subdiagnósticos, mas sim diagnósticos tardios. Isto deve-se, como já foi referido à existência de sintomas apenas numa fase de doença avançada e ao facto de estes sintomas serem inespecíficos e, por isso, algumas vezes não valorizados pelas mulheres.

O diagnóstico de cancro do ovário deve incluir uma avaliação médica inicial, durante a qual são apurados sintomas, é realizado um exame físico, são revistos os antecedentes de doença da mulher e é, ainda, questionada existência ou não de casos de cancro da mama ou do ovário na família e respetivas idades de diagnóstico. A ecografia pélvica é habitualmente o primeiro exame solicitado. Caso se verifique alguma alteração suspeita de cancro do ovário, deve ser realizada uma referenciação ao médico especialista, idealmente um ginecologista especialista na área da ginecologia oncológica. Infelizmente, não raras vezes, os sintomas severos levam o doente a procurar um serviço de urgência sendo o diagnóstico realizado neste contexto.

Qual é a importância da componente genética no risco de desenvolvimento deste cancro?

A hereditariedade no cancro do ovário é muito importante na medida em que, em cerca de 15% dos casos de cancro do ovário, a mulher afetada pela doença herdou, do pai ou da mãe, um gene alterado (mutado) que foi responsável pelo aparecimento da doença. Através de uma análise ao sangue, é possível perceber se esta mutação existe ou não, em cada mulher com cancro do ovário. A existência de mutação tem implicação na escolha do tratamento. Além disso, e também de extrema importância, é o facto de, numa família na qual foi identificada uma mulher com cancro do ovário associado a mutação genética, ser possível e desejável estudar outras mulheres da mesma família, saudáveis, para perceber se herdaram ou não a referida alteração genética; e nas mulheres portadoras de mutação é possível definir estratégias para reduzir o risco de virem elas próprias a desenvolver cancro do ovário e outros cancros (nomeadamente cancro da mama).

Qual a faixa etária mais atingida?

O cancro do ovário é habitualmente diagnosticado em mulheres na menopausa, após os 50 anos. Mas existem exceções, nomeadamente nas doentes referidas anteriormente, com mutações nos genes BRCA 1 ou BRCA 2, nas quais o diagnóstico pode ocorrer em idades mais jovens. Como em muitos outros cancros, também em relação ao cancro do ovário a idade é um fator de risco.

Quais os tratamentos disponíveis atualmente e qual a taxa de sobrevivência a cinco anos?

Os tratamentos do cancro do ovário incluem a cirurgia, que continua a ser fundamental no tratamento desta doença e deve ser realizada por ginecologistas com experiência na área; habitualmente, a cirurgia é precedida ou antecedida por tratamentos de quimioterapia. Nos últimos anos, nalgumas situações, outras classes de medicamentos são também usados, nomeadamente os inibidores da PARP e os antiangiogénicos. Acima de tudo, é fundamental que os casos sejam tratados em centros com experiência nesta área e abordados por uma equipa multidisciplinar. Relativamente à taxa de sobrevivência, considerando todos os estadios (estadios iniciais e avançados), a taxa de sobrevivência aos cinco anos aproxima-se dos 40%, sendo obviamente melhor em doentes diagnosticadas em estadios precoces.

SO

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