17 Jan, 2022

Nuno Jacinto. “É tempo de nos deixarem ser médicos de família por inteiro!”

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) organizou, no início de abril, em Aveiro, a 39.ª edição do Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar (MGF).

A reunião magna dos médicos de família portugueses reuniu cerca de 900 participantes em torno da miríade de temas que constaram de um programa pensado e executado “fora da caixa”.

“Esta é a hora de inverter o rumo que os cuidados de saúde primários (CSP) e o Serviço Nacional de Saúde (SNS) estão a levar, antes que seja tarde demais e que a crescente desmotivação leve a um total baixar de braços. O SNS está doente. E está doente porque não sabe nem valorizar, nem acarinhar os seus profissionais. Quem o gere trata os médicos de família (MF) como funcionários em quem pode delegar mais e mais competências”.

O alerta partiu do presidente da APMGF, Nuno Jacinto, na abertura dos trabalhos do 39º. Encontro Nacional de MGF, num discurso que não poupou críticas à tutela e que espelha o sentimento da generalidade dos MF.

“Estaremos nas unidades de saúde sempre disponíveis para dar o nosso contributo, mas por favor deixem-nos ser médicos de família por inteiro”, apelou o dirigente da APMGF, arrancando aplausos sonoros dos colegas presentes no auditório do Centro de Congressos de Aveiro.

Ainda que vivamos tempos de grandes desafios – agravados pelo impacto da pandemia de covid-19 – Nuno Jacinto fez questão de ressalvar que “a Associação não tem estado parada!”, anunciando inúmeras iniciativas que a atual direção tem vindo a desenvolver, nomeadamente o estabelecimento de parcerias para a atribuição de bolsas de investigação (as primeiras das quais foram entregues no 39º Encontro Nacional) ou um “ambicioso” plano de formação em que se insere um calendário preenchido de webinars temáticos online, que se vêm juntar às inúmeras ações de formação presenciais de cariz nacional ou regional promovidas pela APMGF, as suas delegações e grupos de estudos.

Através de mensagem gravada – por impossibilidade de estar fisicamente presente em Aveiro – e a propósito do panorama dos CSP em Portugal e do presente e futuro dos MF, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães lamentou que o Governo “não seja capaz de conseguir fixar os MF no SNS, porque teima em não valorizar o trabalho dos profissionais e continua a não investir em melhores condições”.

A cerimónia de abertura do 39.º Encontro Nacional de MGF ficou ainda marcada por um forte sentimento de apoio aos refugiados ucranianos, com o bastonário da OM a elogiar “a grande resposta que os médicos estão a dar a esta população refugiada, em linha com aquilo que a OM tinha pedido”. Convidada a dar a sua perspetiva sobre este assunto, Daryna Lavriv, médica interna de MGF na USF D. Diniz – nascida na Ucrânia, mas a viver em Portugal desde os nove anos – contou que os vários refugidos que tem vindo a acompanhar na sua unidade desde o início do conflito “vivem todos os dias com o coração apertado e sob stress constante”. No seu entender, uma grande fatia destas pessoas precisa de apoio psicológico imediato, resposta dificultada pelo baixo número de psicólogos disponíveis no SNS.

SO

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