24 Jan, 2019

Nunca faltaram tantos medicamentos nas farmácias como no ano passado

Mais de 64 milhões de embalagens não foram dispensadas. Medicamentos para doença de Parkinson, Diabetes ou DPOC foram os que mais faltaram em 2018. ANF queixa-se dos preços demasiado baixos.

Só no ano passado, não foram dispensadas 64,1 milhões de embalagens de medicamentos por falta de stock nas farmácias. Estes números representam um aumento face a 2017 e são valor mais elevado desde que o problema começou a ser monitorizado, em 2014. Em 2018, as notificações à associação do sector aumentaram 32,8% face ao ano anterior.

Os dados constam do último relatório do observatório que foi criado há seis anos pelo Centro de Estudos e Avaliação em Saúde (Cefar) da Associação Nacional de Farmácias (ANF) para acompanhar o problema. O sistema instalado permite registar as encomendas a que os distribuidores não conseguem dar resposta de imediato.

As notificações até diminuíram em 2016 e 2017, ano em que foram registadas 48,3 milhões de embalagens em falta. Contudo, em 2018, o número disparou – com um aumento de quase 16 milhões de embalagens não dispensadas.

As falhas podem ter vários níveis de gravidade, consoante a importância do medicamento em falta para o doente que o pede. Nalguns casos, o problema pode colocar em risco a vida dos doentes, quando estes interrompem a toma da medicação. Alguns dos medicamentos que os doentes não encontraram nas farmácias portuguesas no último ano são “considerados essenciais pela Organização Mundial de Saúde”.

A juntar à falta de capacidade da indústria para fornecer alguns medicamentos, soma-se a falta de comunicação de alguns farmacêuticos, que não informam os doentes de que existem alternativas para substituir aquele fármaco pedido. Na maior parte das situações, os doentes são obrigados a voltarem à farmácia passados algumas horas para levarem os fármacos. No entanto, há casos em que o stock de medicamentos ou dispositivos (como o sensor de medicação de glicose Free Style Libre), fica esgotado durante semanas.

Uma fonte do setor disse ao Correio da Manhã que o abastecimento dos laboratórios às farmácias é “irregular” porque “os preços praticados em Portugal são dos mais baixos da Europa” e há uma “falta de liquidez das farmácias para fazer stock”. O secretário-geral da Associação Nacional de Farmácias, Nuno Flora, diz mesmo que “a maioria das farmácias tem prejuízo para dispensar os medicamentos essenciais, comparticipados pelo Estado”.

Os medicamentos que mais faltaram em 2018 foram o Sinemet (para a doença de Parkinson), o Trajenta (que combate os diabetes), o Aspirina GR (para doentes com tromboses e enfartes), o Spiriva (doença pulmonar obstrutiva crónica) e o Adalat (hipertensão).

Questionado pelo jornal Público, o Infarmed garante que recorda que, nos últimos anos foram tomadas medidas “que visam prevenir e combater a indisponibilidade de medicamentos em Portugal e mitigar as rupturas de stock”.

Tiago Caeiro

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