Moçambique: Medicamentos vendidos no meio da rua ameaçam saúde da população
Os produtos tradicionais africanos para curar males continuam a disputar com os antibióticos, paracetamol ou medicação contra a malária em mercados informais do centro de Moçambique.
“Feira” e “38 milímetros” são os nomes dos dois maiores mercados informais de Chimoio onde os remédios e medicamentos são vendidos lado a lado em minúsculas bancas de bambu. Não exigem quaisquer regras, tanto no que diz respeito ao transporte, como ao manuseio, nem tão pouco recomendações relativamente à sua administração [a do medicamento em causa].
Grande parte dos produtos é exposta ao sol e à chuva ou está também em contacto com outros químicos, como inseticidas, o que potencia o risco daqueles fármacos porem em risco a saúde pública.
Medicamentos como Penicilina, Benzatina ou antirretrovirais são transportados pelos vendedores em maletas ou até nos bolsos, comercializados “pela calada”, como se de uma rede de tráfico de drogas se tratasse.
“Temos vindo a realizar reuniões com as comunidades para a população evitar a compra de fármacos em locais informais”, disse à Lusa Mateus Mindu, porta-voz do comando da Polícia de Manica.
Os fármacos comercializados nestas feiras ou bancas sem as adequadas condições de higiene e de conservação pertencem, na sua maioria, a um espectro de medicamentos que deveriam ser entregues de forma gratuita ou sob o pagamento de um valor simbólico. No entanto, no decorrer da sua distribuição acabam por ser “desviados das farmácias de hospitais públicos e dos depósitos de medicamentos, em esquemas que envolvem funcionários estatais, segundo dados da Polícia”, avança a agência Lusa.
Sem qualquer formação profissional ou conhecimentos da área da saúde, os vendedores acabam por improvisar, nas traseiras da sua banca ou “mini-armazém”, a aplicação de injeções, sem qualquer noção das dosagens adequadas ao paciente que diante de si se depara.
Das várias clínicas clandestinas desativadas no último ano na província de Manica, a Polícia destaca uma, na zona de Muda-Serração, aldeia de Gondola, que operava há 12 anos numa residência de ‘bloco burro’ (blocos artesanais feitos com barro da região) e coberta de capim.
A ‘clínica’, com todos os serviços hospitalares, foi encerrada após uma operação da polícia, depois de um paciente ter denunciado a prescrição, pelo médico, de antirretrovirais para tratar o seu filho que estava com malária. A operação fez parte de uma investigação da polícia para travar o roubo, prescrição, venda e administração de medicamentos desviados do sistema nacional de saúde.
De acordo com a entidade policial do local, já se verificam, no entanto, alguns sinais que demonstram que o combate a esta prática [venda ilícita de medicamentos por pessoas não qualificadas e em espaços impróprios para o efeito ] está a mostrar alguns resultados. Ainda assim, o contrabando e venda ilegal de medicamentos insiste em resistir às investidas policiais que ocorrem, pelo menos, desde 2011. Em 2015, a luta intensificou-se: a Polícia de Manica começou com novas investidas para travar o negócio ilegal que põe em risco a saúde pública, mas não tem conseguido erradicar o problema, que continua ativo em vários mercados de Chimoio e dos distritos.
“As operações têm sido realizadas de forma recorrente e, se observarmos o gráfico de venda de fármacos nos mercados informais, vemos que tende a reduzir”, referiu Mateus Mindu.
Aqueles que “continuam nesta prática, fazem-no de forma muito discreta e ao se aperceberem da presença da polícia, põem-se em fuga”, disse à Lusa, assegurando que a operação conta agora com operacionais infiltrados nos mercados. Assim, os órgãos que garantem a segurança pública já detiveram algumas pessoas, desde vendedores a fornecedores dos medicamentos.
Enquanto o circuito de venda de remédios não for desativado, medicamentos como a tetraciclina, que viram a proibição do seu uso em determinadas situações pela Organização Mundial de Saúde (OMS), continuam disponíveis nas ruas de Chimoio e em distritos próximos.
Erica Quaresma (com Lusa)