Melhorar o acesso a cuidados respiratórios de doentes com SAOS

Maria José Guimarães é pneumologista e tem competência em Medicina do Sono pela Ordem dos Médicos. Na sua intervenção vai falar sobre SAOS e como é importante referenciar atempadamente para tratamento, quer seja no público como no privado.

A síndrome de apneia obstrutiva do sono (SAOS) é um problema de saúde cada vez mais frequente. Embora se desconheça a prevalência exata desta patologia, tudo indica que deverá afetar mais de 10% dos adultos a partir dos 40 anos. “É preciso estar atento aos sinais e sintomas desta doença, porque tem um forte impacto negativo na vida das pessoas, além de poder ser causa de outras patologias, nomeadamente do foro cerebrocardiovascular ou neurológico”, alerta Maria José Guimarães.

Dever-se-ia assim, de acordo com a pneumologista, apostar-se no diagnóstico precoce, através de rastreios a grupos de riscos nos cuidados de saúde primários (CSP). “Quanto mais cedo se identificar, mas facilmente se inicia o tratamento.”

Tendo sido médica no setor público, mas atualmente no privado, Maria José Guimarães alerta para o aumento de doentes que, face às listas de espera para consulta da especialidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS), recorrem ao privado. O diagnóstico costuma ser rápido, “em apenas uma semana”, mas a questão mais premente é o tratamento. “No privado consegue-se resposta em 15 dias, no máximo, contudo, estes tratamentos são gratuitos no SNS e, se por razões financeiras ou por opção, estes doentes tiverem que voltar ao SNS, vão continuar à espera.”

A especialista defende, assim, uma reorganização dos cuidados respiratórios para que nos casos de SAOS se possa iniciar a terapêutica o quanto antes. “Deveria ser possível referenciar, independentemente de o diagnóstico ter sido feito no público ou no privado, evitando-se deste modo complicações associadas à SAOS, como AVC ou até demência.”

Considerando que já é “muito positivo” existir uma rede de cuidados respiratórios domiciliários (CRD) e se ter adotada em 85% dos casos a telemonitorização para seguimento dos doentes no domicílio por parte das empresas de CRD , a pneumologista adverte para as dificuldades que se veem na monitorização da SAOS. “Estes doentes têm que ser acompanhados em consulta para que se consiga perceber se cumprem a terapêutica, se têm alguma dúvida, se conseguem ter qualidade de vida; contudo, face à lista de espera no público, torna-se muito difícil reorganizar este tipo de cuidados.”

Maria José Guimarães espera que, dentro em breve, se consiga encontrar a melhor solução para estes doentes terem um diagnóstico e tratamento atempados – sem esquecer a monitorização. Mas, para tal, é preciso “um trabalho conjunto, multidisciplinar”, envolvendo profissionais especializados na área.

Na sua opinião, esta reestruturação nos cuidados deve ser acompanhada de campanhas para a população em geral, para que procurem ajuda. “Ressonar nunca é normal”, salienta.

MJG

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