5 Nov, 2021

“Mecanismo diferenciador do baricitinib desempenha papel relevante no tratamento da dermatite atópica”

O dermatologista do CHUP e professor do ICBAS salienta a importância da inibição da via JAK-STAT no tratamento da dermatite atópica, na medida em que a permite “uma ação mais ampla e mais rápida, nomeadamente ao nível do prurido”, um dos sintomas que mais afeta a qualidades de vida destes doentes.

A inovação terapêutica é imprescindível na área de dermatite atópica. O que destacaria, neste âmbito concreto, de mais relevante e mais recente, no controlo desta doença?

A realidade do tratamento da dermatite atópica moderada a grave está a mudar. Até 2017 as opções terapêuticas eram muito limitadas e a maioria dos fármacos utilizados eram imunossupressores, muitos deles não aprovados para o tratamento da dermatite atópica. E, apesar de eficazes numa parte dos doentes, o seu perfil de segurança, tolerabilidade, interações medicamentosas e toxicidade, dificultavam o tratamento e controlo da doença a longo prazo.

O avanço no conhecimento dos mecanismos da dermatite atópica observado nos últimos anos, veio contrariar esta realidade e permitiu identificar diversos alvos terapêuticos, conduzindo ao desenvolvimento de novos fármacos, orais e injetáveis, dirigidos a estes alvos. Estas novas terapêuticas, algumas já aprovadas – como o dupilumab, o tralokinumab, o baricitinib e o upadacitinib –, outras em fase final de desenvolvimento, como o abrocitinib, além de muito eficazes, são também seguras e permitem um tratamento a longo prazo. Soluções que estão a mudar por completo a abordagem terapêutica desta doença.

Assim, apesar da descoberta de uma cura estar ainda distante, o futuro do tratamento do eczema atópico parece ser promissor!

Em que medida o mecanismo de ação dos inibidores da JAK é diferenciador face às restantes terapêuticas para a dermatite atópica?

A dermatite atópica é uma doença complexa e heterogénea, em termos clínicos e imunológicos. A sua fisiopatologia envolve desregulação imune, disfunção da barreira cutânea, e alterações do microbioma.

A via Th2, e as suas citocinas, desempenham um papel central na sua imunopatogenese, no entanto outras vias inflamatórias, como a Th1, Th17 e Th22, podem ser mais relevantes em alguns doentes, etnias, grupos etários ou estádios da doença. De facto, várias citocinas, como a IL-4, IL-5, IL-13, IL-22, IL-31, TSLP, mostraram estar envolvidas na disfunção de barreira e na desregulação imune observada na dermatite atópica.

Como todas estas citocinas sinalizam pela via JAK-STAT, a inibição desta via permite uma atuação mais ampla, diferenciando-se dos agentes biológicos que inibem de forma mais seletiva uma ou duas destas citocinas. Esta inibição mais ampla associa-se a uma maior rapidez de ação, essencialmente a nível do prurido, o sintoma que mais impacta o doente com dermatite atópica.

Qual o impacto do baricitinib na prática clínica e no tratamento da dermatite atópica?

Em 2017 foi aprovado o primeiro agente biológico para o tratamento da dermatite atópica: o dupilumab, um inibidor da IL-4 e IL-13. E, apesar de ter iniciado a mudança do paradigma no tratamento da dermatite atópica, mais de um terço dos doentes não atinge a resposta pretendida e outros perdem eficácia com o tempo, pelo que a existência de novas terapêuticas é fundamental.

Para dar resposta a esta realidade contamos com baricitinib. O primeiro inibidor JAK disponível para o tratamento da dermatite atópica que, devido ao seu mecanismo de ação diferenciador, pode desempenhar um papel muito relevante no tratamento desta doença, quer em primeira linha ou em casos de falência terapêutica a agentes biológicos. A sua rapidez de ação no prurido pode torná-lo particularmente importante nos casos em que a melhoria deste sintoma seja fundamental.

CBM/SO

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