5 Jun, 2019

Mais mortalidade no Algarve devido a ondas de calor

O Algarve pode ter, até ao final do Séc. XXI, mais eventos meteorológicos extremos, bem como cheias e avanço do nível do mar, conclui um estudo hoje divulgado.

O Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) aponta que a subida no nível do mar, o elevado aumento de temperatura, bem como o decréscimo dos recursos hídricos são fatores que leva a crer que o Algarve se torne uma região bastante mais vulnerável até ao final do século vigente.

O coordenador científico do plano, Luís Dias, disse à agencia Lusa, que um modelo estatístico desenvolvido no plano estima que “a mortalidade no Algarve associada a eventos particularmente quentes pode subir de 2% para 7%“, sobretudo no leste algarvio, sendo Alcoutim a região que gera uma maior preocupação.

“Em cenário de alterações climáticas, julho e agosto passam a ser meses muito quentes”, o que pode modificar a tendência da ocupação turística no Algarve, refere, apontando para a alta probabilidade de começar a haver duas épocas turísticas com um tempo mais ameno, intervaladas por dois meses muito quentes.

Já no que respeita à subida do nível do mar, prevê-se que as zonas mais afetadas serão Faro e Quarteira (mais vulneráveis devido à população urbana), mas também Lagos e Tavira, devido ao aumento da probabilidade da ocorrência de cheias e inundações.

De acordo com o especialista, apesar de atualmente ainda ser possível travar o avanço do mar com a alimentação artificial de praias e a criação de dunas, essas soluções poderão não ser suficientes daqui a 40 ou 50 anos, devendo ser equacionadas outras medidas, como a construção de paredões ou, mesmo, a deslocalização de parte da população.

“Devem [ainda] ser tomadas medidas no espaço público para proteger as áreas urbanas de cheias e inundações”, explicou. É necessário também que as cidades tenham mais condições para que os habitantes enfrentem o calor, seja através da criação de mais e maiores espaços verdes, através da presença de água, de sombras e até uso de microaspersores para pulverizar água.

A diminuição de recursos hídricos é outra ameaça que paira sobre a região, que nos últimos anos já tem sofrido com longos períodos de seca, agravando a situação dos agricultores que fazem da terra o seu negócio e de onde subsistem. No entanto, este problema pode ser mitigado pela implementação da dessalinização de água do mar.

“Mantendo-se a agricultura no estado em que está e o consumo no estado em que está, e partindo do princípio que não haverá alteração, no pior cenário, por volta de 2080 teremos que construir uma central de dessalinização”, refere.

O PIAAC envolveu responsáveis universitários, autarcas e técnicos de instituições públicas na elaboração de propostas de medidas de adaptação que, a longo prazo, contribuam para minimizar os impactos das alterações climáticas em vários setores.

O coordenador não científico do plano, Filipe Duarte Santos, é membro do centro de investigação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo sido um dos revisores do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).

Esta iniciativa envolveu um investimento superior a 470 mil euros, verba financiada em 85% pelo Fundo de Coesão, através do Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos, e em 15% pelos municípios algarvios.

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