10 Mar, 2023

Jornadas Multidisciplinares de MGF. “As relações interespecialidades são vitais”

Entre 23 e 25 de março vão decorrer as V Jornadas Multidisciplinares de Medicina Geral e Familiar, no Porto. Rui Costa, copresidente do evento, faz uma antevisão das temáticas que vão ser abordadas. Realça ainda o intercâmbio com os especialistas hospitalares.

Já são cinco anos de Jornadas. Que balanço faz desta iniciativa?

As Jornadas Multidisciplinares têm sido um sucesso desde a primeira edição e são um marco formativo importante, assente num modelo organizacional e científico diferenciador. Entendemos que valeu a pena o lançamento deste projeto educacional de índole nacional, da MGF e dirigido para a MGF, o qual tem sido amplamente reconhecido e valorizado pela MGF e contribuído para a partilha e aquisição de conhecimento atualizado, de reconhecido valor científico e útil para a prática clínica diária.

“Pretendemos com os casos clínicos estar mais próximos da realidade do dia-a-dia do médico e ir ao encontro das suas reais necessidades educacionais, nomeadamente as dos internos de especialidade”

Têm dado especial enfoque, desde o primeiro ano, aos casos clínicos. Como médico, sente que que os eventos da especialidade têm que ser cada vez mais teórico-práticos? É uma mudança que se deve ter em conta, sobretudo junto dos internos?

Claramente que desde a primeira edição demos um enfoque muito grande na utilização de casos clínicos, que são a base e a essência da nossa prática clínica, partindo do estudo do caso para o diagnóstico, tratamento e seguimento de diversas patologias, com que somos confrontados no exercício clínico diário. Pretendemos com os casos clínicos estar mais próximos da realidade do dia-a-dia do médico e ir ao encontro das suas reais necessidades educacionais, nomeadamente as dos internos de especialidade, e não só, de forma a poderem abordar e solucionar as diversas situações clínicas  com que são diariamente confrontados, com vista à melhor satisfação dos utentes e obtenção dos melhores resultados em saúde.

 

Que frutos tem trazido o contacto entre os cuidados de saúde primários e os hospitalares nestas jornadas?

Os principais frutos são a partilha do conhecimento científico atualizado e assente na melhor evidência científica e o estabelecimento de pontes e relações interespecialidades, necessárias à melhor integração e articulação do contínuo da prestação de cuidados de saúde. Entendo que as relações interespecialidades são vitais e devem ser abertas, salutares e integradoras, com vista à melhor e mais eficiente prestação de cuidados e à obtenção dos melhores resultados de saúde para as pessoas que nos procuram, seguimos e cuidamos.

 

Um dos temas é sobre o Alcoolismo. Após a pandemia, nota que há mais casos?

Sabemos que Portugal está entre os países da União Europeia com um dos maiores consumos de bebidas alcoólicas e de prevalência de problemas ligados ao álcool. O consumo de álcool é um dos principais problemas do nosso país e as problemáticas associadas ao seu consumo são muito pouco relevadas ou faladas. Os problemas ligados ao álcool abrangem o conceito de alcoolismo e a globalidade dos que são motivados pelo álcool, quer no indivíduo quer nos planos físico e psíquico, assim como ao nível das perturbações da vida familiar, profissional e social e, também, nas suas implicações económicas, legais e morais. Esperamos com esta sessão sensibilizar e contribuir para uma melhor deteção e abordagem pelo médico de família de toda a problemática associada ao consumo de álcool.

“Fruto de toda a evolução científica é necessário o médico combater a inércia terapêutica e implementar as melhores práticas clínicas e terapêuticas, baseadas na evidência”

Vai falar-se também de Geriatria. Com o envelhecimento da população, quais são os grandes desafios que o médico de família enfrenta no dia a dia?

O envelhecimento da população portuguesa é uma realidade em crescendo. Na atualidade, cerca de um quarto da população tem mais de 65 anos. Com este crescente número de população idosa – muitos institucionalizados e com fragilidades -, fruto do aumento da esperança média de vida e dos bons cuidados de saúde em Portugal, surge o desafio de no dia a dia ter de lidar com múltiplas e variadas situações geriátricas que importa o especialista em MGF dominar e acompanhar.

 

Todos os anos têm dado atenção à diabetes e às suas complicações. O que ainda é preciso mudar para se otimizar o diagnóstico atempado e o tratamento da diabetes?

A temática da diabetes, pela sua crescente prevalência e pelo seu elevado impacto cardiovascular e microvascular é relevante para a prática clínica quotidiana do médico. Esta área do conhecimento tem apresentado nos últimos anos inúmeras evoluções terapêuticas, que têm contribuído para uma melhor otimização terapêutica e o consequente controlo da pessoa com diabetes. Fruto de toda a evolução científica é necessário o médico combater a inércia terapêutica e implementar as melhores práticas clínicas e terapêuticas, baseadas na evidência, para obter melhores resultados em saúde para as pessoas com diabetes que segue no seu consultório. Não basta conhecer e ter acesso ao melhor conhecimento e ao estado da arte, é preciso implementá-lo no trabalho clínico diário aos seus utentes.

 

Gastrenterologia, Dermatologia e Cardiologia têm estado sempre presentes no evento. Quais as patologias que mais preocupam o especialista em MGF nestas áreas e que ainda são um desafio na prática clínica?

De uma forma geral existem nestas áreas múltiplas patologias que são frequentes na consulta diária e que  interessam ao médico de família. Destacamos, na área da Cardiologia, a hipertensão arterial, a doença coronária, as valvulopatias, as arritmias e a insuficiência cardíaca. Na Gastroenterologia, a gastrite crónica,  o refluxo gastro esofágico, a esofagite, a síndrome do intestino irritável, a neoplasia do estômago e do cólon, as intolerâncias alimentares, as colites inflamatórias, entre outras. Na área da Dermatologia temos por exemplo, eczemas, acne, rosácea, IST, urticária, alopécia, neoplasias da pele.

“… já existe uma maior sensibilização em relação à prescrição racional de antibióticos e para as resistências antimicrobianas, mas ainda há espaço de melhoria”

Relativamente à antibioterapia no ambulatório, considera que já existe outra sensibilização em relação às resistências antimicrobianas?

Julgo que sim, já existe uma maior sensibilização em relação à prescrição racional de antibióticos e para as resistências antimicrobianas, mas ainda há espaço de melhoria. Daí a razão de ser desta sessão, com vista a atualizarmos conhecimentos na área das patologias com necessidade de prescrição antibiótica, suas indicações e a racionalidade do seu uso no ambulatório.

 

No final, acredita que vai ser mais um evento de sucesso?

Certamente que sim. A comissão organizadora está empenhada em apresentar um evento de elevado nível educacional, de forma a corresponder às expectativas e reais necessidades formativas de todos os que nos honrarem com a sua presença. Esperamos com estas Jornadas Multidisciplinares proporcionar mais uma ação de educação e de formação médica diversificada e interativa, dirigida às reais necessidades dos internos e especialistas em MGF. É nossa intenção acrescentar valor formativo e educacional aos médicos e outros profissionais de saúde, no âmbito dos cuidados de saúde primários, com vista à sua contínua atualização científica, partilha de conhecimento e discussão de temas relevantes para a sua prática quotidiana.

SO

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