19 Ago, 2021

Investigadores portugueses decifram como as interações neuroimunes queimam gordura visceral

Estudo revela novas alternativas terapêuticas eficazes na redução de reservas de gordura visceral, as quais estão associadas a doenças cardiovasculares e vários tipos de cancro.

Cientistas portugueses decifraram o funcionamento do primeiro processo neuro-imune conhecido, através do qual sinais cerebrais comandam a função imunológica nos depósitos de gordura visceral. A investigação foi publicada hoje (18 de agosto) na revista Nature.

“O excesso de gordura visceral para além de muito perigoso é também muito difícil de eliminar”, começou por explicar o investigador principal e codiretor da Champalimaud Research em Portugal, Henrique Veiga-Fernandes. Tendo isto em consideração, a equipa “propôs-se a explorar os mecanismos que o reduzem naturalmente, na expectativa de descobrir potenciais aplicações clínicas”.

Para iniciar a sua investigação, os especialistas começaram por demonstrar o seu interesse num tipo específico de células imunes designadas ILC2 (células linfoides inatas do tipo 2), as quais também estão presentes na gordura visceral, além das células de gordura, de fibras nervosas e de muitos outros tipos de células diferentes.

“As ILC2 são essenciais a várias funções imunológicas”, declarou a primeira autora do estudo, Ana Filipa Cardoso. “No entanto, até aqui, não sabíamos que as células controlavam as ILC2 na gordura visceral ou quais as mensagens moleculares que utilizavam para comunicar entre si”.

Com base na análise de resultados anteriores de experiências que revelaram que, no pulmão, é o sistema nervoso que controla diretamente a atividade destas células, os investigadores não encontraram um mecanismo semelhante neste caso. “Ao investigar outros candidatos no tecido, encontrámos finalmente um ‘intermediário’ bastante inesperado”, revelou a investigadora. “As células mesenquimais (MSC, na sigla inglesa) foram amplamente ignoradas”, mas “os cientistas descobriram que estas desempenham várias funções ativas essenciais”.

Assim, através de várias experiências, foi possível identificar a cadeia de comando e as mensagens trocadas em cada etapa. “Começa com sinais neuronais para as MSC. Estas enviam depois uma mensagem para as ILC2, à qual estas últimas respondem ordenando que as células de gordura acelerem o seu metabolismo”.

Neste sentido, a equipa procurou identificar a “estrutura do cérebro que está no topo da cadeia de comando”. Segundo a sua observação, existe uma região dentro do hipotálamo – Núcleo paraventricular do hipotálamo (PVH) – que é o centro de controlo de um conjunto diversificado de processos que vão do metabolismo à reprodução e às funções gastrointestinais e cardiovasculares.

“Esta descoberta é muito significativa”, revelou Veiga-Fernandes. Os resultados, na opinião da equipa, apresentam várias abordagens potenciais para a manipulação do processo de queima de gordura visceral. “Agora podemos começar a pensar em formas de usar este novo conhecimento para combater a obesidade visceral e, assim, reduzir o risco de doenças cardiovasculares e cancro”, concluiu Ana Filipa Cardoso.

Aceda ao estudo na íntegra aqui.

SO

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