28 Fev, 2018

Idosos portugueses consomem sal acima das recomendações da OMS

Quase todos os idosos em Portugal (91,5% dos homens e 80% das mulheres) ingerem demasiado sal e têm baixos níveis de potássio, de acordo um estudo publicado hoje.

A amostra contou com 1.500 portugueses com idade igual ou superior a 65 anos e indica que 91,5% dos homens idosos portugueses e 80% das mulheres idosas ingerem sal a mais, suspeitando-se que seja da “elevada utilização na confeção e consumo de alimentos ultra processados”, avançou hoje à Lusa Pedro Moreira, um dos autores do estudo que envolveu a Universidade do Porto e instituições científicas do Minho e Noruega.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda uma ingestão de sal “até cinco gramas por dia”, mas os valores máximos de sal identificados nos idosos em Portugal foram de 27 gramas de sal nos homens e 20,8 gramas nas mulheres, ou seja, mais do triplo do valor recomendado pela OMS. Outra das conclusões do estudo prende-se com uma maior ingestão de sódio (sal) entre idosos “mais velhos, solteiros, com menor rendimento e peso abaixo do peso normal” e uma maior ingestão de potássio foi encontrada nos idosos “mais jovens, casados e com maior rendimento”.

Um dado novo avançado também neste estudo é que se analisou e comparou o sódio (fator nutricional associado à hipertensão e acusado de aumentar o risco de cancro do estômago), em função do potássio (melhor regulação do açúcar no sangue e menor resistência à insulina, o que será importante para limitar o risco de diabetes ingerido), sublinha Rui Moreira, explicando que é tanto mais grave, quanto maior o valor do sódio e menor estiver o do potássio.

Assim, o estudo hoje publicado na revista Food & Nutrition Research revelou que praticamente todos os homens idosos portugueses (99,1%) e quase todas as mulheres idosas portuguesas (98,4%) tinham um valor acima de 1 na relação sódio/potássio, quando o recomendando é inferior a 1,0. Ou seja, só estavam adequados 0,9% dos homens idosos e 1,6% das mulheres. “E porquê olhar para os dois [sódio e potássio]? Porque contrariamente ao passado, em que se olhava sobretudo para o sódio, começou-se a perceber que olhar para o sódio simultaneamente com o potássio, explica mais o risco de doença cardiovascular e a mortalidade do que olhar para cada um deles isoladamente”, explicou Pedro Moreira. “E é aqui que os dados são ainda bastante piores – um valor inferior a 1,0 traduz menor risco de doença cardiovascular e de mortalidade. Neste trabalho, [verificou-se] a ocorrência simultânea de alto consumo de sódio e baixo consumo de potássio”, acrescentou. A proporção de participantes com ingestão inadequada de potássio foi de 96,2% de mulheres e 79,4% de homens”, lê-se ainda nas conclusões do estudo científico.

O estudo foi realizado no âmbito do projeto Nutrition Up 65 e contou com uma amostra de 1.500 pessoas com mais de 65 anos (57% mulheres e 43% homens), tendo sido realizado entre 2015 e 2016.

O potássio é um “nutrimento essencial” e tem papel fundamental” na manutenção da função das nossas células, e diferentes sistemas como o muscular, ósseo ou renal, bem como na proteção cardiovascular. Outros benefícios do aumento do consumo de potássio podem incluir uma melhor regulação do açúcar (glicose) no sangue e menor resistência à insulina, o que será importante para limitar o risco de diabetes, explica o investigador.

“As estratégias para reduzir o sódio e aumentar a ingestão de potássio são prioridades na população idosa portuguesa”, alertou Pedro Moreira, referindo que o objetivo do estudo era “reduzir as desigualdades nutricionais da população idosa portuguesa, melhorando o conhecimento atual sobre o estado nutricional da população portuguesa com mais de 65 anos de idade”.

O estudo científico foi financiado pelo EEAGrants – Programa Iniciativas de Saúde Pública – em 519 mil euros. Este projeto conta com a participação dos investigadores da FCNAUP, do Departamento para a Pesquisa do Cancro e Medicina Molecular da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia e da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, EPE, tendo como coordenadora Teresa Amaral, da FCNAUP.

LUSA/SO

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