6 Jan, 2022

Hospital de Setúbal recebe 67 médicos para formação mas nenhum para obstetrícia

O diretor clínico do Hospital de Setúbal salienta que a vinda de 67 novos internos significa o “reconhecimento da capacidade formativa” da instituição.

O Centro Hospitalar de Setúbal (CHS) recebeu no primeiro dia de janeiro um total de 67 médicos para formação, 50 para geral e 17 para específica, mas nenhum para obstetrícia, uma das especialidades mais carenciadas, disse fonte da unidade.

Segundo revelou à agência Lusa fonte do CHS, dos 17 médicos para formação na especialidade, há dois em psiquiatria, dois em medicina interna e apenas um para muitas outras especialidades, incluindo a especialidade de anestesiologia, que também é uma das áreas mais carenciadas no CHS.

Os restantes médicos internos de formação específica foram distribuídos pelas especialidades de cardiologia, gastrenterologia, hematologia clínica, imunoalergologia, nefrologia, neurologia, ortopedia, otorrinolaringologia, patologia clínica, pediatria, pneumologia e urologia.

Embora se trate de médicos em formação e não de profissionais habilitados a trabalhar de forma autónoma, alguns acabam por criar laços e permanecer nas instituições onde são formados depois de concluírem a especialidade.

Confrontado com o número de médicos que vão fazer formação no CHS, o diretor clínico, Nuno Fachada, disse à agência Lusa que a vinda de 67 novos internos significa o “reconhecimento da capacidade formativa” da instituição. Salientou ainda o facto de serem “17 os médicos para formação na especialidade, mais dois ou três do que no ano passado”.

Nuno Fachada esclareceu, no entanto, que os médicos em formação não vêm para preencher os muitos lugares em falta no CHS, lembrando que só daqui a cinco ou seis anos estes novos médicos estarão aptos a trabalhar de forma autónoma, depois de concluírem com êxito a formação na especialidade que escolheram.

A falta de médicos no CHS foi um dos motivos que levou ao pedido de demissão do diretor clínico, em 30 de setembro do ano passado, secundado pelos pedidos de demissão de mais 87 diretores e chefes de serviço, no que classificaram como um “grito de revolta”.

Na origem do protesto, simbólico, porque todos os médicos continuaram no exercício de funções, estava a degradação progressiva das condições para a prestação de cuidados de saúde aos utentes, devido à falta de espaço físico e de equipamentos, bem como a referida falta de médicos, situação que assume particular gravidade na especialidade de Obstetrícia e que pouco ou nada se alterou desde então.

Ouvida em outubro do ano passado na Comissão Parlamentar de Saúde da Assembleia da República, a pedido do BE, uma delegação representativa dos médicos demissionários, constituída por Isabelle Cremers, José Poças, Luís Cortez e Carlos Ribeiro, alertou para a “falta de cerca de 70 médicos”, bem como para a previsível “reforma de 20% a 25% dos clínicos no CHS nos próximos cinco anos”.

A reclassificação do hospital [do grupo C para o grupo D], que permitiria outras formas de financiamento mais vantajosas e maior capacidade de investimento, foi outra medida que consideraram prioritária para o CHS, que serve uma comunidade de 250 mil habitantes dos concelhos de Palmela, Sesimbra e Setúbal, mas que também recebe cerca de 100 mil utentes do Litoral Alentejano.

Na mesma audição parlamentar, o diretor de cirurgia do CHS, Luís Cortez, lembrou que muitos médicos continuam a sair do setor público para o privado e afirmou que os principais problemas do hospital de Setúbal não podem ser resolvidos a nível local, porque resultam, principalmente, das políticas de saúde que têm sido seguidas a nível nacional.

LUSA

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