Hospitais cancelam consultas e cirurgias para desviar médicos para as urgências
É a solução encontrada por muitos hospitais para contornarem a falta de médicos nas urgências. Cirurgias e consultas já estão a diminuir em relação a 2021.
Perante a falta de médicos para completar escalas dos serviços de urgência, muitos hospitais optam por cancelar parte da atividade programa não urgente (consultas e cirurgias) de modo a realocar os médicos para as urgências, garantindo o funcionamento destes serviços. A informação, baseada em relatos de médicos da região de Lisboa, foi avançada pelo DN.
Sob anonimato, os profissionais explicam a situação: “não há outra solução, senão ninguém aguenta fazer mais horas extras e a atividade programada”.
“Isto, não é surpresa nenhuma. É a solução que as unidades têm para gerir situações de crise, porque não andam sempre a contratar médicos“, diz um outro profissional de saúde, acrescentando: “Foi isto mesmo que aconteceu durante a covid-19. Só que na altura foi uma medida assumida pelo ministério”.
Segundo o Sindicato Independente dos Médicos (SIM), o cancelamento de consultas e cirurgias está acontecer em hospitais como o de Vila Franca de Xira ou Braga. “A longo prazo não se vão notar problemas, porque, tapando um buraco, aparece como uma situação resolvida, mas, na verdade, em relação às doenças crónicas, cirurgias e consultas, ainda se vai acrescentar mais ao tempo de espera”, alerta o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha.
Os últimos dados de atividade nos hospitais, divulgados pela Administração Central do Sistema de Saúde, indicam que em abril deste ano foram feitas menos consultas e cirurgias do que em abril de 2021, o que mostra uma interrupção na normalização da atividade programa, que pode ser explicada pela necessidade de desviar recursos humanos para as urgências.
Assim, em abril de 2022 realizaram-se, nos hospitais do SNS, 977 mil consultas externas, quando, há um ano, tinham sido mais de um milhão de consultas. Também as cirurgias caíram para cerca de 53 mil, menos do que em abril de 2021.