Guia de Recursos sobre a Dor reúne “as vozes da comunidade, a dor dos migrantes e a dor LGBT”

Pelo facto de a dor ser algo que "está sempre presente", e dado que "a forma como a mesma é tratada e encarada tem as suas especificidades", a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde teve a ideia de criar "um projeto inovador onde a dor não fosse apenas tratada de uma forma fisiológica, mas de um modo biopsicossocial", afirma a presidente da SPLS e coordenadora do projeto, Cristina Vaz de Almeida.

No sentido de dar o conhecer o Guia de Recursos sobre a Dor, um documento criado pela Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) com a “intenção de criar recursos para as comunidades e para as pessoas, sempre de forma gratuita”, a sociedade organizou o Congresso da Dor no passado dia 17 de outubro, onde publicou este guia. Em entrevista ao SaúdeOnline, Cristina Vaz de Almeida, presidente da sociedade, explica em que consiste este projeto, criado para que “a dor não fosse apenas tratada de uma forma fisiológica, mas de um modo biopsicossocial”, afirma.

Para a constituição do grupo, Cristina Vaz de Almeida convidou 3 pessoas: “Maria Teresa Flor de Lima, vice-presidente de uma associação de dor nos Açores, e médica anestesista, tendo lidado durante muitos anos com a dor; Rita Veloso Mendes, que fez com Rita Espanha o grande estudo de literacia em saúde, e por isso tinha bastante conhecimento sobre a população; e convidei ainda a enfermeira Berta Augusto porque, também dentro da área neurológica, tem muito conhecimento”, conta a presidente da SPLS.

Já com o grupo criado, a equipa pensou em qual seria a melhor forma de incluir também “as associações, os hospitais, a proximidade, o biopsicossocial”. Nesse sentido, a presidente da SPLS transmite que foram trabalhadas 9 áreas no Guia de Recursos sobre a Dor.

O primeiro ponto abordado centrou-se na questão ‘o que é a dor?’, bem como a sua “codificação, definições e questões relativamente a se é benigna ou maligna”. Além disso, o grupo tentou ainda perceber a “dor psicológica, para além da física”. “Tentámos aprofundar as questões do luto, o luto normal e o patológico, e que tipos de dor acarretam”, revelou Cristina Vaz de Almeida.

Não esquecendo que “dentro dos hospitais, e até aos cuidadores, existe um percurso da dor”, a equipa explorou questões como: “Como é que se trata a dor nos hospitais? De que maneira passam para as unidades de saúde de proximidade? Que equipas intra-hospitalares existem nos cuidados paliativos? E quanto aos cuidadores?”.

A dor física também foi alvo de destaque, “da cabeça aos pés, desde a dor do maxilar, até à dor respiratória, à dor da gravidez, os cancros, as questões do suporte básico de vida”.

Dentro da dor social, o grupo explorou duas abordagens distintas. A primeira diz respeito aos migrantes, dado que “somos uma sociedade multicultural, e estas populações têm uma dor social muito profunda, uma vez que deixam as famílias e vêm para cá sozinhos na maioria das vezes, não têm uma grande rede de saúde, e daí esta dor social”. Segundo a equipa, existe ainda outra dor social que merecia relevo, nomeadamente a “dor LGBT”, uma dor “que é falada apenas num certo nicho”.

Reunindo já “as vozes da comunidade, a dor dos migrantes e a dor LGBT”, os investigadores decidiram ainda incluir no guia o facto de a dor ser “algo que não se trata apenas através da medicação, mas também através de soluções não farmacológicas, desde a meditação, o ioga do riso, o relaxamento, a convivência social, o mindfulness, etc”. “Uma série de estratégias para toda a gente, mesmo aqueles que não têm dor, mas que possam vir a ter”, partilhou a líder da SPLS. No guia foi ainda mencionada a “questão da alimentação e da atividade física quanto à dor”.

“Por fim, quisemos deixar os testemunhos verdadeiros. São cerca de 9 a 10 pessoas, com vários tipos de dor, desde biológica, fisiológica, psicológica, emocional e social, para transmitirem o seu testemunho. Criámos um micro site com um guia sobre todos os recursos que existem a nível nacional, desde as unidades da dor, as associações de doentes, os recursos na comunidade, e disponibilizamos cerca de 300 contactos de norte a sul do país”, afirmou Cristina Vaz de Almeida.

“Este guia tem tanta riqueza e tanta informação científica, escrita de uma forma tão acessível, que serve para os educadores, para os profissionais de saúde, para os académicos para os profissionais da área social, e para todo o cidadão que tem dor, que possa vir a ter, ou que conhece alguém que tem dor, que é um estado permanente, num determinado momento da vida toda a gente tem dor”, concluiu.

CG

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