Formação médica e indústria farmacêutica: dependência ou parceria?
Médico – Cuidados Paliativos | Vila Nova de Gaia Docente convidado da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Formação médica e indústria farmacêutica: dependência ou parceria?

A Medicina é ciência, é humanismo e é arte. Todos estes saberes são treináveis, todas estas dimensões beneficiam de uma orientação formativa contínua e regular. E disso beneficiam todos os doentes que passam “pelas mãos” de cada médico.

Existem em Portugal cerca de 56 mil médicos inscritos na Ordem dos Médicos, dos quais cerca de 12 mil são médicos internos, e existem cerca de 12 mil estudantes de medicina.

Em Portugal, a formação médica é altamente complexa e diferenciada, sendo que o sistema de saúde (público, privado e social) tem uma organização circular em torno da especialização médica. Após o curso de Medicina (6 anos), os médicos têm ainda entre 5 e 7 anos até serem finalmente médicos especialistas. E, felizmente, no nosso país, a grande maioria dos médicos são ou virão a ser especialistas na sua área de diferenciação, que representa a maior garantia de qualidade na prestação de cuidados médicos.

Mas há outras garantias que temos que exigir que, a meu ver, são absolutamente fundamentais, pois vivemos num mundo em que a evolução tecnológica e científica é galopante, e em que as sociedades se reinventam constantemente.

A formação médica não pode parar, nunca. Mesmo sendo especialistas, os médicos têm que garantir a sua atualização e reciclagem de conhecimentos de uma forma constante e regular. Neste momento, esta formação e atualização contínua é assegurada pelos próprios, e em alguns casos é apoiada pela indústria farmacêutica, numa relação que é desejável que seja de parceria, possibilitando que os médicos apliquem os conhecimentos mais atuais e, com isso, beneficiem os seus doentes.

Infelizmente, não há um verdadeiro programa nacional de atualização e formação médica contínua, que seria útil e desejável. Este programa deveria ser financiado pelo SNS, e por todos os grupos económicos da área da saúde. Porque todos beneficiam com esta exigência. E é só com exigência que se mantém e melhora a qualidade.

Há um interesse comercial/económico por parte da indústria farmacêutica. Penso que não deve haver dependência da indústria na formação médica, mas sim uma parceria. A indústria pode e deve apoiar a formação médica, porque dela também beneficia. Mas para garantir idoneidade, independência e credibilizar o ensino médico continuado, a indústria não pode assumir o papel de formadora, para o qual tem sido empurrada, pela “falta de comparência” do ministério da saúde.

A experiência obtida com o projeto Iniciativa Médica 3M (https://im3m.pt/) tem sido muito boa neste sentido. A IM3M, grupo com 15 médicos unidos pela formação médica em Geriatria, Medicina da Dor e Cuidados Paliativos, tem organizado várias formações, assegurando sempre a independência total do programa científico. A indústria que tem apoiado estas formações sabe que pode contar com isenção, idoneidade e credibilidade. Ganham os melhores produtos, ganham os médicos, ganham os doentes e ganha o sistema de saúde.

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais