Extinguiram-se os Hospitais e os Médicos estão em extinção
Cirurgião Geral

Extinguiram-se os Hospitais e os Médicos estão em extinção

O conceito de hospital é de reconhecimento ancestral no mundo. A sua existência decorre da necessidade de oferecer serviços assistenciais a populações doentes e carentes.

Quando havia hospitais, os serviços clínicos eram exercidos por médicos ajudados por outros cidadãos e, mais tarde, por enfermeiros e outros trabalhadores, de diferentes sectores, necessários para a proficiência global da infra-estrutura.

Hospitalis  eram as infra-estruturas (edifícios) onde eram recebidos os peregrinos, os pobres doentes e os doentes que necessitavam de tratamento nosocomial (no nosocomium).

Antes da era cristã já existiam hospitais, mas é reconhecido que o impulso que determina a consolidação e desenvolvimento da actividade hospitalar assenta no cristianismo. A vocação era assistencial.

O conceito de hospital, pelos séculos 19 – 20 deu origem a instituições que ofereciam assistência aos doentes, com maior vocação para os mais necessitados, quer pelas condições sociais quer pela natureza da doença. Com recursos humanos organizados, com equipamentos e serviços suportados e geridos pelo Estado, centrados na actividade clínica, nos meios auxiliares de diagnóstico e terapêuticos, associados à investigação científica possível.

O exercício da actividade médica e subsequente profissionalização era a essência dos hospitais.

A profissão de enfermagem, embora historicamente haja referência ao exercício de actividades de índole assistencial dirigidas ao bem-estar dos enfermos, terá nascido com o entendimento moderno por finais do séc. XIX e, ao longo do séc. XX, consolidou-se na prática hospitalar e ganhou autonomia.

O restante pessoal que trabalhava no hospital distribuía-se por funções várias que tinham como objectivo adquirir e organizar os diversos recursos, humanos, materiais, logísticos, etc., necessários para permitir que os médicos hospitalares pudessem cumprir a sua missão mais importante que era tratar doentes.

Actualmente, há hospitais públicos, com colaboradores que tentam preservar os fundamentos dos “hospitais”, mas são maltratados e os gestores desses hospitais actuam como se empresas privadas de fins lucrativos fossem.

Há centros comerciais / shoppings que vendem produtos e serviços de saúde, serviços e alguns produtos para doenças e produtos com alguns serviços para bem-estar. Hospital quer dizer instituição com recursos humanos – “os profissionais de saúde” – organizados em grupos interdisciplinares (alguns especializados), recursos técnicos e tecnológicos, recursos financeiros e de gestão, uns custeados pelo erário público, outros pela finança privada e alguns por solidariedade social. Mas sem identificação e distinção de competências e responsabilidades.

Nota: Ocorre-me sugerir que os Presidentes da República, da Assembleia da República, de Câmara, de Junta de Freguesia, Ministros, primeiros ou segundos, secretários, etc., passem a ser designados, apenas, “profissionais da política”.

Agora, há o tecido empresarial da saúde e seus colaboradores … os “profissionais de saúde”. A doença está secundarizada, é abordada com discrição para não prejudicar a saúde! A saúde consome muito – com lucro – porque vende muito e vende muitos produtos pouco úteis. A doença consome muito – despesa – porque a tecnologia é cara e as instalações não albergam gente saudável, mas sim gente doente e carente de cuidados que permitam sobreviver e produzir ou retardar o fim. Consomem muito e isso tem custos. O retorno financeiro não é sedutor. Esquece-se o retorno humano.

As empresas de serviços de saúde – qualquer que seja o ramo específico de actividade – têm no horizonte o lucro e os focos variam consoante os recursos que possuem e dominam. Os planos e modelos de actividade dos gestores que colaboram com essas empresas resultam, não do foco no Doente, mas sim no Cliente, sendo certo que o Cliente é entendido como o consumidor dos produtos/serviços da empresa e não como a Pessoa necessitada de serviços que a empresa pode disponibilizar.

As próprias “tabelas de custos dos serviços de saúde” são elaboradas e impostas a partir de definições de actos, valorações, pacotes, agrupamento obrigatório de actos clínicos desnecessários para o Doente, facturações de actos ou recursos não utilizados, etc., gerando custos finais assentes em discriminações de consumos que, nem o Cliente e menos ainda o Doente, conseguem interpretar. Pagam e … . Há casos que configuram “assaltos”.

Assim sendo, pergunto: por que não assumem, os profissionais da política que, não só foram destruindo o Serviço Nacional de Saúde – que me orgulho de ter ajudado a construir, desde 1974, embora só formalizado em 1979 – como não pretendem fazê-lo renascer?

É mais “rentável” ajudar a criar uma “confederação de saúde”, expandindo e semeando incapacidades públicas, do que empenhar-se na reconstrução do bem maior, depois da Liberdade, que o 25 de Abril ajudou a concretizar.

*O autor escreve segundo o A.A.O

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