29 Set, 2023

Estudo alerta para necessidade de melhorar a literacia e tratamento da insuficiência cardíaca em Portugal

O projeto TOGETHER-PT reuniu especialistas no tratamento da insuficiência cardíaca e faz uma reflexão multidisciplinar de modo a otimizar os cuidados em Portugal. As conclusões obtidas alertam para a necessidade de ser gerada uma maior sensibilização, melhor diagnóstico e melhor funcionamento dos cuidados em rede.

Sendo o envelhecimento populacional uma realidade na sociedade atual em Portugal, João Agostinho, cardiologista no Hospital de Santa Maria e Hospital CUF Tejo acredita que se “perspetiva um grande aumento de doentes com insuficiência cardíaca (IC) em Portugal”.

De acordo com o especialista, “este aumento do número de doentes vai agudizar a exigência sobre os cuidados de saúde, quer através de um maior número de internamentos, como da necessidade de um número maior de consultas, refletindo-se, também, num aumento da taxa de mortalidade”, refere.

Para além desta questão, o médico acrescenta que os “cuidados prestados a doentes com IC em Portugal não são, ainda, os ideais”, daí a apresentação do projeto TOGETHER-PT, que juntou mais de 150 profissionais de saúde de várias áreas, como Enfermagem, Cardiologia, Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar, de modo a “compreender os desafios atuais e as perspetivas de futuro em relação à gestão destes doentes”, esclarece João Agostinho.

O especialista afirma que foram identificadas lacunas quanto à organização de cuidados, especialmente “no que toca à necessidade de funcionamento em rede, com tarefas e vias de referenciação definidas, integrando os cuidados de saúde primários, os hospitais regionais e os hospitais centrais” e ainda ao diagnóstico, “na necessidade de disponibilizar exames essenciais ao diagnóstico nos Cuidados de Saúde Primários, onde estes não estão disponíveis de forma comparticipada”. “Este simples facto possibilitaria um diagnóstico bastante mais atempado e iria otimizar a referenciação de doentes a consultas hospitalares especializadas”, refere o cardiologista.

O médico salienta ainda que apesar de o diagnóstico de IC estar “cada vez mais refinado, sobretudo pela disponibilidade de meios complementares de diagnóstico mais fidedignos, o progressivo envelhecimento da população, a falta de conhecimento da população e de alguns profissionais de saúde sobre IC e a ausência de disponibilidade de alguns meios complementares de diagnóstico, (…) contribuem, não só para um crescente número de doentes, mas também, para o consequente subdiagnóstico”. 

Este projeto reuniu especialistas do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, o Núcleo de Estudos de Insuficiência Cardíaca da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna e o Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.

João Agostinho, explica que a iniciativa “compilou os principais pontos para melhoria e as dificuldades que um grupo de experts enfrentam na gestão de doentes com IC”, tendo depois procurado “validar a importância destas questões junto de um grupo de peritos em IC de todo o país”, espelhando “a opinião generalizada dos profissionais especializados que estão todos os dias no terreno a cuidar dos doentes”.

Assim, as conclusões apresentadas revestem-se “de maior validade (…) para que sejam utilizadas como ponto de partida para a melhoria necessária na gestão da IC em Portugal”, conclui o médico.

CG

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