10 Jan, 2023

Entrevista. “Em 2050, os idosos serão 50% da população, os conhecimentos em Geriatria são mandatórios”

A Iniciativa Médica 3M (IM3M) vai organizar um Curso Intensivo em Geriatria entre 26 e 29 de abril em regime Webinar. O coordenador da IM3M, Hugo Ribeiro, faz uma antevisão da formação e alerta para a importância de se estar atento às particularidades dos idosos.

A quem se destina o Curso Intensivo em Geriatria?

Destina-se a todos os interessados em aprofundar conhecimentos no idoso, na fisiologia do envelhecimento, nas patologias mais prevalentes e nos cuidados farmacológicos mais importantes a ter nestas idades nas diferentes áreas que serão abordadas, retirando-se o máximo benefício das estratégias terapêuticas e limitando os riscos de efeitos adversos. Está por isso focado essencialmente na atuação médica, de todas as especialidades, pois é uma área transversal e, diria até, fundamental nos nossos dias. As inscrições podem ser feitas no site da IM3M.

 

Quais são as principais síndromes geriátricas a que os médicos devem estar atentos?

Para além da síndrome de fragilidade, diria que as principais e mais frequentes são a polimedicação e a sua potencial iatrogenia, a síndrome de imobilidade, a incapacidade cognitiva e comunicativa, a incontinência e a instabilidade postural. Neste curso abordamos com detalhe todas estas síndromes, da perspetiva da abordagem médica, recorrendo como sempre a casos clínicos e à sua discussão prática.

“Para além da intervenção para “remediar”, permite-nos prevenir, que é uma estratégia muito mais adequada”

 

A avaliação geriátrica global é sempre um dos temas abordados quando se fala em Geriatria. Quais são as suas mais-valias?

Com uma avaliação o mais pormenorizada possível do idoso conseguimos aperceber-nos das suas dimensões mais frágeis e intervir de forma mais direcionada e otimizada. Para além da intervenção para “remediar”, permite-nos prevenir, que é uma estratégia muito mais adequada.

“Temos que preparar os médicos para a realidade da Geriatria”

 

A que particularidades se deve estar atento nos idosos quando no que diz respeito a patologias crónicas?

Os idosos têm mais doenças, têm doenças mais graves/avançadas, e estão fisiologicamente mais frágeis. As intervenções médicas adequadas a esta população têm que ser individualizadas, porque tanto podemos ter um idoso “fit” como podemos ter um idoso com uma grande carga de doença, com adiposidade sarcopénica, com disfunção renal e/ou hepática ou outras características, que condicionam a nossa abordagem farmacológica. Temos que obter o maior benefício possível das terapêuticas, mas com o maior cuidado de segurança possível. Temos que preparar os médicos para a realidade da Geriatria: hierarquizar problemas individualmente, adequar as terapêuticas para cada idoso e introduzir uma grande dose de raciocínio clínico face a guidelines que raramente estão ajustadas à realidade desta população.

 

Que cuidados se deve ter em conta na prescrição de medicamentos, tendo em conta que alguns afetam o SNC, nomeadamente quando se trata de dor ou de problemas do foro mental?

Caracterizar bem o doente é fundamental: desde a avaliação geriátrica global à funcionalidade dos vários órgãos e sistemas de órgãos e à composição corporal individual. A esse conhecimento, temos que adicionar o que conhecemos dos vários fármacos disponíveis para cada classe farmacológica ou área terapêutica (como são metabolizados? onde são excretados? como se distribuem?), e só assim conseguimos prevenir grande parte dos efeitos adversos nesta população. Fármacos com atividade no SNC, por exemplo, que exijam uma titulação lenta, podem ter uma semivida de 8 h num idoso com 77 anos, mas noutro caso, com a mesma idade, essa semivida pode ser de 12 ou mais horas, só pelas alterações que referi atrás. É este conhecimento que temos que ter quando abordamos doentes idosos.

“… os médicos estão cada vez mais preocupados com a necessidade de aprofundarem conhecimentos em Geriatria e em Cuidados Paliativo”

A realização destes cursos já tem algum tempo. Nota que os profissionais de saúde estão cada vez mais despertos para as particularidades dos idosos?

Notamos que os médicos estão cada vez mais preocupados com a necessidade de aprofundarem conhecimentos em Geriatria e em Cuidados Paliativos. A população está a envelhecer, em 2050 os idosos representarão 50% da população portuguesa, logo conhecimentos em Geriatria são mandatórios para a prática clínica diária. Para além desta formação, este ano a IM3M organizará este ano a 2ª edição do Congresso Multidisciplinar da Dor, de 13 a 15 de setembro, na Figueira da Foz, já tendo publicitado o “Save the Date”. Este ano o congresso manterá a sua dinâmica de discussão de casos clínicos, numa área em que também surgem graves lacunas na formação dos profissionais de saúde, e onde pretendemos dar uma resposta adequada às suas necessidades formativas: passar prática, experiência, conteúdos do dia a dia de quem se dedica especialmente a estas áreas, e que acreditamos que pode melhorar a abordagem de todos aos doentes com estas necessidades particulares.

 

SO

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