26 Jan, 2023

SPEDM. “É um desígnio desta Direção criar pontes com outras sociedades nacionais e estrangeiras”

Jorge Dores é o presidente do Congresso Português de Endocrinologia/73ª Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Diabetologia (SPEDM), que decorre entre 3 e 6 de fevereiro, em Vilamoura. Em entrevista faz uma antevisão do evento.

O que podemos esperar deste Congresso?

Um programa onde todos se possam rever: os internos e os seniores, os médicos hospitalares e aqueles que já deixaram os hospitais, os clínicos e os investigadores, os endocrinologistas e todos aqueles que não sendo endocrinologistas se interessam pelas doenças endócrinas. Criámos ainda momentos para a discussão de temas, que não sendo endocrinológicos, são seguramente importantes e desafiantes para a nossa vida profissional: as conferências sobre gestão estratégica das organizações e sobre o erro em saúde são disso exemplo.

 

Neste Congresso vão participar outras sociedades. Qual o objetivo?

É um desígnio desta Direção criar pontes com outras sociedades nacionais e estrangeiras nesta área da Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. É uma mais-valia poder-se partilhar conhecimentos e experiências. Este ano vamos contar com a presença da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Sociedade Europeia de Endocrinologia, da qual  fazemos parte, Sociedade Europeia da Tiroide, Sociedade Espanhola de Endocrinologia e Nutrição, Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade e Sociedade Portuguesa das Doenças Ósseo Metabólicas.

“Os enfermeiros são uma extensão da nossa atividade na gestão do doente com patologia crónica, sobretudo no que diz respeito ao reforço da educação terapêutica”

Além dessas pontes com outras sociedades, também haverá com a Enfermagem..

Sim, irá realizar-se também um curso para estes profissionais. Os enfermeiros são uma extensão da nossa atividade na gestão do doente com patologia crónica, sobretudo no que diz respeito ao reforço da educação terapêutica. Mas também na execução de provas funcionais no estudo de doenças endócrinas, no apoio entre consultas, em pequenos ajustes da medicação antidiabética, no reforço do ensino da insulinoterapia. Com as novas tecnologias de monitorização complementam ainda a nossa função [de médicos] ao descarregarem dados em diversas plataformas, para que seja mais rápida a sua revisão e leitura na consulta médica. Esta colaboração com a Enfermagem é antiga, mas, quanto mais a Endocrinologia evolui, maior necessidade existe de se ter esta colaboração em equipa multidisciplinar. Além disso, os próprios enfermeiros empenham-se cada vez mais em especializarem-se em determinadas áreas.

“É fundamental diminuir a mortalidade e a morbilidade associadas a esta complicação da diabetes [pé diabético]”

Os problemas do pé diabético também serão abordados. Estando ligado a esta área há muitos anos, como avalia o apoio dado atualmente aos doentes?

Sim, são vários anos. Comecei com a Consulta do Pé Diabético do Hospital de Santo António, no Porto, que foi criada em 1987. À época foi considerada pioneira pelo tratamento multidisciplinar de lesões no pé. Desde então têm sido criadas mais consultas, contudo ainda não temos o número desejável. Ainda há muitos doentes sem acesso a estes cuidados da forma mais adequada, ou seja, em equipa multidisciplinar. Daí que no Congresso se realize um curso. O objetivo principal desta formação, além da atualização de conhecimentos, é sensibilizar e entusiasmar os jovens médicos e enfermeiros a trabalharem nesta área que é importantíssima. É fundamental diminuir a mortalidade e a morbilidade associadas a esta complicação da diabetes [pé diabético].

 

Continuando a falar de diabetes, como vê o contributo das novas tecnologias na autogestão da doença?

São fundamentais! As novas tecnologias têm caminhado paralelamente com os telemóveis, o que nos permite  ter uma série de apps de leitura e monitorização da glicose. Além disso, caminhamos rapidamente para um sistema automático de administração de insulina baseado nos níveis de glicose, o chamado pâncreas artificial. Até há pouco tempo tínhamos à disposição dois sistemas independentes: um de administração de insulina e outro de monitorização de glicose. Hoje já existem sistemas híbridos, que permitem as duas coisas. Só falta mesmo criar um algoritmo para a libertação de insulina consoante os níveis de glicose após as refeições e sem intervenção do doente. Este é o passo que nos falta para permitir uma maior autonomia aos utilizadores e aos cuidadores.

“Alguns estudos que indicam que estes dispositivos permitem uma melhor autogestão da doença, logo previnem-se mais complicações”

Além de melhorar qualidade de vida do doente, quais são as mais-valias para os profissionais de saúde?

Alguns estudos que indicam que estes dispositivos permitem uma melhor autogestão da doença, logo previnem-se mais complicações. Para os profissionais de saúde… A minha opinião pessoal – não da SPEDM – é de que estas tecnologias irão exigir de nós uma maior disponibilidade de tempo, porque iremos estar sempre a receber informação e, obviamente, mesmo que não estejamos a trabalhar, poderemos deparar-nos com uma situação que exija uma intervenção imediata. Mas, obviamente, este é o caminho certo para que as pessoas com diabetes possam gerir a sua doença crónica.

 

Além da diabetes, que outras patologias da área da Endocrinologia mais vos preocupam?

Existem muitas ou não fosse a Endocrinologia tão vasta. A obesidade, as doenças da tiroide – quer o aparecimento de nódulos como o hipo e hipertiroidismo –, as alterações do metabolismo do fósforo e do cálcio são das mais relevantes. Além destas, que são as mais frequentes, destaco também as patologias do hipotálamo e da hipófise, já que produzem hormonas que interferem com o funcionamento de quase todo o organismo. E depois há sempre  os problemas que afetam as glândulas suprarrenais – tumores e alterações genéticas – e as doenças de desenvolvimento sexual.

 

Um dos temas é incongruência de género na puberdade. Que desafios traz à Endocrinologia este problema de que se fala cada vez mais?

Este é o grande desafio dos últimos tempos, sobretudo pela procura cada vez maior de pessoas com esta condição. Neste Congresso queremos incutir o interesse nesta área, porque a Endocrinologia e a Psiquiatria devem liderar uma equipa vasta, multidisciplinar, desta condição – não existe consenso se se trata ou não de uma doença. Os profissionais de saúde devem atualizar conhecimentos nesta área, mas também mudar atitudes e comportamentos, daí este tema vir a ser abordado no Fórum dos Internos.

SO

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