3 Nov, 2020

Eleições APMGF. “Temos mais sócios, uma revista melhor, mais grupos de estudo”

Em entrevista, o presidente da APMGF, que se candidata a um terceiro mandato, defende o legado e sublinha as propostas que apresenta a eleições e os desafios da MGF nos próximos anos.

A candidatura que encabeça chama-se “Nova APMGF”. Quais as principais propostas que destaca no programa da sua lista?

Estamos a construir um novo “edifício” com um novo projeto. O apoio à investigação com criação de bolsa específica com concurso anal, apoio à publicação científica, inclusão de colegas em projetos nacionais e internacionais, apoio à inovação com criação de incubadora de projetos, apoio aos médicos internos de MGF, formação médica contínua e de proximidade, provedoria de apoio aos médicos de família, redimensionamento de listas de utentes, projetos com outras sociedades científicas, estudo e discussão da nova carreira médica, entre muitos outros projetos envolventes e com uma nova visão.

Este novo projeto tem uma especial preocupação com a valorização da especialidade e dos seus especialistas. Para consumar os projetos que estamos a desenvolver contamos com uma vasta equipa de mais de 100 colegas. Contamos com as delegações regionais e distritais e com núcleos locais e ainda com quatro Conselhos Nacionais: Consultivo, Científico, de Ética, e de Internos e Jovens Médicos de família.

Alguns sócios alegam que é preciso descentralizar a APMGF. A criação da figura dos delegados regionais é um passo nesse sentido?

Sim delegados regionais e locais mesmo dentro de uma região. Os médicos de família estão distribuídos por unidades de saúde públicas, privadas e do setor social. Interessa apoiar e manter proximidade com todos os colegas e por todos os meios. Interessa pôr a APMGF e os seus meios ao dispor dos colegas mas também recolher opiniões e ideias inovadoras e apoiar o desenvolvimento de projetos locais. A meta é ter núcleos locais ou delegações em todos os ACES antes do fim do nosso mandato.

Outra das críticas que tem a ver com a falta de aposta na investigação. O que se propõe fazer no próximo mandato (se for eleito) neste âmbito?

A aposta na investigação é inequívoca. É fundamental apoiar a investigação não apenas com bolsas mas também com apoio na projeção de trabalhos e na sua publicação. É necessário canalizar recursos para a investigação, mas também é necessário estrutura e apoio. A aproximação à academia é estratégica e de grande alcance porque é onde está mais e melhor competência nesta área, mas também onde poderemos encontrar mais motivo para apoiar projetos bem fundamentados e robustos. Por outro lado, a investigação vai ser uma área de emprego a desenvolver nos próximos anos.

Dentro de poucos anos teremos um grande número de colegas com dificuldade de encontrar emprego nas unidades de saúde tradicionais de prestação de cuidados de saúde.

A pandemia veio criar desafios “extra” ao SNS e também aos médicos de família. Que medidas a sua candidatura defende e vai exigir junto da tutela para defender os especialistas em MGF?

São muitos desafios. Desde logo com o reforço de investimento nos centros de saúde quer a nível de recursos humanos quer de equipamentos. É necessário procurar uma nova estratégia para dignificar o imenso trabalho já realizado mas que carece de valorização e reconhecimento.

Os médicos de família e médicos internos de MGF seguem mais de 95% dos casos COVID mas os políticos e a comunicação social fala mais de ventiladores e de hospitais. Porquê?! Temos que inverter esta tendência e valorizar os centros de saúde e o trabalho dos médicos de família e dos nossos colegas internos. Temos que proteger os médicos de família e promover o investimento nos centros de saúde.

Como olha para a questão a formação e para a questão dos doentes a descoberto (mais de um milhão). O que precisa a tutela fazer para resolver este problema?

Este é um problema gigantesco e que nos envolve a todos. Não é legítimo continuarmos a ter as mesmas soluções de há anos, quando sabemos que os resultados não são os desejados.

Não é razoável perdermos 20 a 30% dos jovens médicos de família que se formam a cada ano porque o Ministério da Saúde não é capaz de criar condições dignas de exercício profissional. Não é possível ter listas de utentes gigantescas para jovens colegas que chegam a uma unidade de saúde.

Não é aceitável ter médicos de família sem doentes e doentes sem médico de família. Há necessidade de encontrar soluções específicas para problemas específicos, começando por perguntar aos jovens colegas que fazem concursos o que pensam e o que desejam para o seu futuro profissional. O que pensam os colegas da carreira médica que temos? Como é possível evoluir na carreira médica? Que mecanismos terão que ser criados de novo para revitalizar a carreira médica? É necessário debater e criar de novo.

Como vê o aparecimento de uma lista concorrente à sua? O que considera ter corrido mal nos últimos anos na APMGF sob a sua presidência?

Vejo com naturalidade e como motivação e valorização do debate de ideias. A disponibilidade de colegas para envolvimento em dois projetos fará crescer a APMGF. Os colegas disponíveis, com competências de liderança e capacidade de execução, serão bem-vindos no nosso projeto. Nada correu mal, apenas maneiras de ver o futuro e disponibilidades diferentes.

O seu opositor nestas eleições, o Dr. Nuno Jacinto, considera que a APMGF perdeu peso nestes anos. Que comentário lhe merece?

É uma opinião mas discordo. Temos mais sócios a cada ano que passa. Temos uma Revista melhor, com mais editores e mais revisores, mais pontual, mais indexada. Temos mais relação e mais protocolos celebrados com sociedades científicas. Somos mais procurados pelas outras sociedades científicas. Temos mais grupos de estudo. Temos mais contactos de jornalistas. Mantemos as boas relações internacionais. E mesmo do ponto de vista financeiro não temos problemas apesar das alterações ocorridas nos patrocínios e apoios da indústria farmacêutica ocorridos nos últimos anos. Claro que não fiquei satisfeito e não subscrevi a proposta de diminuição de atividade da APMGF.

Com que desafios terá de lidar a MGF nos próximos anos?

Estamos a iniciar uma nova era no desenvolvimento da MGF em Portugal. Estamos a atravessar uma renovação geracional de médicos de família com aposentações de perto de 1500 médicos de família em apenas três anos e o ingresso de outros tantos novos colegas, com um número crescente de médicos internos em cada ano.

Novas tecnologias, novos tratamentos para velhas doenças, novas doenças sem tratamento, mais envelhecimento e menor natalidade, mais doentes crónicos complexos. Novo Livro Azul. Novas unidades de saúde e uma nova rede de cuidados de saúde integrados. Novos profissionais de saúde nos centros de saúde novos. Novos polos de desenvolvimento da especialidade. Nova e mais pujante academia. Nova carreira médica. Nova reforma dos Cuidados de Saúde Primários. Por tudo isso e o mais que há por descobrir, também desejamos e estamos a construir uma Nova APMGF.

TC/SO

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