24 Ago, 2022

“É quase escravatura”. Há médicos internos que fazem 20 horas extra todas as semanas

O bastonário dos Médicos alerta para a sobrecarga a que estão a ser sujeitos os médicos internos de Ginecologia-Obstetrícia.

O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) criticou o excesso de horas extraordinárias realizadas pelos médicos internos de Ginecologia-Obstetrícia. No final de uma reunião com 20 destes profissionais, que se dizem exaustos, Miguel Guimarães revelou que, pelo menos num hospital público, todos os internos fizeram, entre Janeiro e Agosto, mais de 650 horas extraordinárias. Se considerarmos as 33 semanas completas que 2022 já leva, este valor representa uma média de 20 horas extras a mais todas as semanas.

“É quase uma escravatura”, disse o representante dos médicos, alertando que o excesso de horas extraordinárias tem também impacto na qualidade da prestação dos cuidados de saúde. O problema, acrescentou, não é exclusivo da Obstetrícia e Ginecologia, estendendo-se a várias especialidades, e tem resultado, nos últimos anos, na saída de profissionais do SNS.

No início deste mês, cerca de 150 médicos internos de Ginecologia e Obstetrícia enviaram uma carta à ministra da Saúde sobre a crise atual enfrentada pela especialidade. Na carta, os jovens médicos reiteraram a indisponibilidade de fazer mais de 150 horas extraordinárias por ano.

“Os médicos, em vez de estarem a protestar, a fazer manifestações e greves, estão a sair do SNS e o facto de haver muitos médicos especialistas a sair do SNS é o sinal de alerta mais forte que existe”, disse, afirmando que não se trata de falta de médicos, mas da dificuldade em captar e manter médicos no setor público.

Questionado sobre que medidas são necessárias, por parte do Ministério da Saúde, para resolver a situação, o bastonário referiu a necessidade de alterações estruturais e a revisão da carreira médica,

“Para rever uma carreira, não são precisos meses, nem anos. É preciso motivação, interesse em resolver os problemas e andar para a frente. No fundo, é preciso fazer acontecer”, resumiu, considerando que, em vez disso, o executivo tende a “empurrar para a frente com a barriga”.

SO/LUSA

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