14 Mar, 2024

Doença Renal Crónica. “É preciso rastrear de forma proativa a população de risco”

Jorge Malheiro, vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia e nefrologista da ULS de Santo António, considera ser fundamental rastrear a doença renal crónica em populações de risco, sobretudo nos cuidados primários.

Qual a prevalência da doença renal crónica (DRC)?

O estudo mais recente indica uma prevalência próxima dos 10%, mais concretamente de 9,8%.

A que sintomas se deve estar atento?

Esse é o grande desafio da DRC, porque, inicialmente, é uma patologia silenciosa. Sendo classificada em cinco estadios, a sintomatologia apenas surge nos mais avançados (estadio IV ou IV para V). Por conseguinte, o diagnóstico é um desafio para os profissionais de saúde, nomeadamente para os especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF), que são os primeiros prestadores de cuidados. Nas fases mais avançadas observam-se edemas, urina espumosa, hipertensão de difícil controlo, hematúria e, mais tarde, outros mais inespecíficos como cansaço fácil, anorexia ou náusea.

Qual a causa desta doença e quem está em maior risco de sofrer de DRC?

Sabe-se que existe uma elevada prevalência nas idades mais avançadas, mas a DRC tem inúmeras causas. A mais frequente continua a ser a diabetes, podendo estar também correlacionada com a hipertensão e a obesidade, doenças autoimunes, auto inflamatórias (pielonefrite), infeções, intoxicações (até medicamentosas), entre outras.

“Um a cada 10 português tem DRC e, pelo menos, dois a cada três, se diagnosticados precocemente, terão uma terapêutica modificadora de prognóstico”

E quais as comorbilidades e complicações mais frequentes?

A hipertensão, a obesidade, a doença cardíaca (coronária ou insuficiência cardíaca) e a doença arterial periférica são comorbilidades comuns na DRC. Quanto às complicações, vai depender de cada estadio. Nas fases intermédias, costuma surgir a anemia, porque a produção da hemoglobina está muito relacionada com a presença da hormona eritropoietina, produzida a nível renal. Quando o rim adoece ou envelhece, essa hormona vai ser menor, o que conduz a anemia, ou seja, surge um cansaço fácil, perda de apetite e de vitalidade, palidez, frio intenso ou tonturas. Outra diz respeito a alterações iónicas como hipercalemia, que aumenta o risco de eventos cardíacos. Acresce ainda a presença de acidose metabólica que leva, inclusive, a maior perda óssea.

Sendo o médico de família o primeiro a contactar com os doentes, a que situações deve estar atento este especialista?

Antes de mais, é preciso reconhecer que a DRC afeta cerca de 10% da população, sendo até mais prevalente que a insuficiência cardíaca. Um a cada 10 português tem DRC e, pelo menos, dois a cada três, se diagnosticados precocemente, terão uma terapêutica modificadora de prognóstico. Os médicos de família, de facto, devem ter uma atitude proativa, devendo rastrear as populações de maior risco. Falo de diabéticos, hipertensos, obesos, pessoas com história familiar de doença renal, infeções crónicas (hepatites e VIH), neoplasia, litíase ou toma prolongada de inflamatórios não esteroides.

MJG

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