Dermatite Atópica. “Atualmente há um boom de novos fármacos, que vêm ajudar os doentes”

A dermatologista e professora da FMUC Margarida Gonçalo destaca a importância dos inibidores da JAK, que vieram “revolucionar a vida dos doentes”, ao atuarem no prurido e inflamação provocados pela dermatite atópica.

Atualmente, “há um boom de novos fármacos, que vêm ajudar os doentes” com formas mais graves de dermatite Atópica, revela, ao SaúdeOnline, a dermatologista Margarida Gonçalo, à margem do 20º Congresso da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia, que decorreu em Coimbra e que veio trazer informação nova aos especialistas presentes relativamente ao tratamento da dermatite atópica (DA).

“Depois de vários anos em que não tivemos nada de novo, em que ninguém ligava à dermatite atópica, atualmente há um boom de novos fármacos, que vêm ajudar os doentes. De entre todas as doenças de pele, a dermatite atópica é aquela que tem um maior burden, ou seja, maior impacto na vida dos doentes”, destaca. Os novos medicamentos, alguns já no mercado e outros a chegar em breve, “vêm revolucionar a vida dos doentes com as formas mais graves de dermatite atópica”.

Os novos fármacos vão interferir na inflamação e do prurido provocados pela doença, “cortando alguns dos mecanismos de ativação, ou seja, citocinas que estão envolvidas na inflamação e que são desencadeadas pelos vários agressores externos na epiderme. Isso leva ao aumento da produção de IL-4 e IL-13, que estão envolvidos na comichão e prurido”, explica Margarida Gonçalo. “Além dos fármacos biológicos que vão atuar nas citocinas, temos já fármacos que, a jusante, atuam na parte intracelular das células, na transmissão do sinal da citocina para induzir a inflamação – os inibidores da JAK (Janus Associated Kinases) – e que têm uma resposta espetacular, quase imediata, no prurido e também uma resposta muito importante na inflamação, que se mantém ao longo do tempo da terapêutica”. A especialista lamenta, contudo, que esta terapêutica não permita suspender o tratamento da DA. “Se suspendermos o tratamento, os défices genéticos mantêm-se e a doença recivida, [o que obriga] a fazer estes tratamentos de forma prolongada na maior parte dos casos”.

Segundo Margarida Gonçalo, a DA “é uma doença muito complexa e heterogénea”. “Há uma parte genética importante e há alterações na pele, que perde a barreira de proteção, permitindo agressões múltiplas do exterior que desencadeiam inflamação na pele e prurido”, explica a dermatologita. A DA pode ter um grande impacto no dia a dia dos doentes, prejudicando o sono, a produtividade laboral, ou o estudo. “São doentes que não conseguem fazer desporto, por exemplo, devido à comichão e que veem a doença agravar-se” de forma rápida.

A também professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra sublinha que a doença afeta cerca de 10 a 20% das crianças, sendo que, no adulto, a prevalência é de 3% em Portugal, segundo um estudo feito, já há mais de uma década, em Coimbra. Um problema importante, sublinha a especialista. “Acredito que, desde 2010, quando fizemos esse estudo, os valores tenham subido [no adulto]. Cada vezes vemos mais casos”. Nos países nórdicos, a prevalência de DA será ainda superior.

Neste momento, está em curso a recolha de dados, de vários centros nacionais, relativos ao primeiro tratamento aprovado, o dupilumab (um inibidor interleucina 4), que vão figurar num artigo científico a ser publicado em breve. “Temos estado envolvidos também na definição dos objetivos a atingir com as novas terapêuticas nestes doentes com DA e que tem coordenado, sobretudo, pelo Prof. Tiago Torres”.

SO

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