“Impacto da Dermatite Atópica extravasa a pele e contamina várias esferas da vida” dos doentes

Distúrbios do sono, absentismo laboral e maior incidência de ansiedade ou depressão são alguns dos problemas associados à Dermatite Atópica moderada a grave, sublinha, em entrevista, o dermatologista do Hospital CUF Descobertas.

Qual a prevalência da DA em Portugal e a nível global, quer na população pediátrica, quer na população adulta?

Os números não são exatamente coincidentes entre as várias populações e variam entre diferentes metodologias. Existem estudos internacionais que mencionam uma prevalência superior a 10% em crianças e de até 7% nos adultos. Em Portugal, os estudos realizados citados abaixo estimam 15% de prevalência em crianças e um intervalo de prevalência em adultos que compreende 0,7-2,64%.

A verdade é que existem seguramente muitos casos de dermatite atópica ligeira e alguns casos de dermatite atópica moderada a grave. Estas formas moderadas a graves são aquelas que nos preocupam, pois, o subdiagnóstico e subtratamento são prováveis em Portugal neste momento.

Estudos que apoiam estes dados: (1) Carmo M, Andrade S, Mendes-Bastos P. Patients under atopic dermatitis treatment in Portugal: results from a physicians’ survey. Barcelona: ISPOR Europe; 2018 (2) Ferreira EO. Análise da estatística nosológica nacional 2009–2013. Grupo Português de Dermatologia Pediátrica. Rev Soc Port Dermatol Venereol. 2016;74:169–73. (3) Carvalho D, Mendes-Bastos P et al. Eczema and Urticaria in the Adult Population in Portugal: A Prevalence Study. Actas Dermosifiliogr. 2019 Nov;110(9):744-751.

Quais os sintomas que mais impactam a vida dos doentes com DA?

A dermatite atópica é uma doença que se manifesta na pele, surgindo na forma de eczemas com caráter crónico-recidivante que podem envolver várias áreas anatómicas. Os eczemas são manchas ou placas eritematosas, mal delimitadas, e geralmente descamativas.

O sintoma cardinal da DA é seguramente o prurido, transversal a todas as pessoas que sofrem com esta doença. O prurido que carateriza a DA é fundamentalmente não histaminérgico, estando vários mediadores inflamatórios (interleucinas) envolvidos na sua origem.  Particularmente nas formas moderadas a graves, o prurido pode ser insuportável e dificultar a concentração, a vivência do dia-a-dia e o sono.

Quando falamos em DA falamos numa doença com um impacto grande na qualidade de vida dos doentes. Em que aspetos é que este impacto se manifesta de forma mais significativa?

É reconhecido o enorme impacto que as doenças dermatológicas crónicas podem ter na vida das pessoas, nunca como agora a DA tem merecido tanta atenção. Importa sublinhar que este impacto é particularmente grave para as formas moderadas a graves, aquelas que frequentemente irão carecer de uma abordagem terapêutica sistémica, imuno-moduladora, para o seu adequado controlo.

Para além dos eczemas crónico-recidivantes que podem envolver qualquer área anatómica, sem dúvida que o prurido constante pode ser a origem de vários problemas na DA moderada a grave. Falamos fundamentalmente de distúrbios do sono, presenteísmo ou absentismo laboral, e maior incidência de perturbações de ansiedade ou depressão, bem como todas as limitações na vida pessoal, profissional e sexual que esta doença pode acarretar. Assim, podemos dizer que este impacto extravasa a pele e contamina várias esferas da vida das pessoas que vivem com DA moderada a grave.

Também o peso (custos diretos e indiretos) com a doença não é displicente na realidade nacional? 

São raros na Europa os estudos de impacto económico das doenças. Recentemente foi publicado o maior estudo português sobre DA, “Dá que pensar” (levado a cabo pela Universidade Nova de Lisboa-IMS, Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venereologia bem como a ADERMAP – Associação Dermatite Atópica Portugal).

A investigação pretendeu avaliar os impactos sociais, laborais, económicos desta doença inflamatória crónica da pele. Em média, estes doentes gastam três quartos de hora por dia a tratar da doença e nos casos mais severos 81 minutos; perdem, em média, dois dias de trabalho por ano, chegando aos nove dias nos casos mais severos. Só em gastos com cuidados de pele e medicamentos, um doente com DA ligeira gasta em média 530 euros, valor que aumenta para 2.054 euros nos casos mais graves. Entre dias faltados, perda de produtividade, e também dias faltados por familiares ou cuidadores, foi estimado que haja um impacto económico total na sociedade de perto de 1.500 milhões de euros/ano.

SO

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