Covid-19. “Mortalidade é três vezes superior nas pessoas com diabetes”

Para o presidente da APDP, os números da primeira vaga da pandemia mostram a necessidade de apostar no controlo da DMT2, pois são os doentes com a doença descontrolada os que enfrentam mais riscos de complicações.

O Observatório Nacional da Diabetes (OND) analisou os dados dos internamentos das pessoas diagnosticadas com Covid- 19 durante a primeira vaga da pandemia e os números demonstram a importância do rastreio nos doentes com diabetes mellitus tipo 2.

Nos dados de março a 28 de abril de 2020 fornecidos pela Direção-Geral da Saúde, verificou-se que a taxa de hospitalização entre as pessoas diagnosticadas com Covid-19 era de 14,5%, uma percentagem que sobe para 43,3% nas pessoas com diabetes.

Para o Dr. José Manuel Boavida, estes números “dão claramente a entender como a infeção [por SARS-CoV2) descompensa a diabetes e do ponto de vista da doença, a Covid-19 corre pior” nesta população, comentou.

O conjunto de dados fornecidos permitiu ainda ao OND verificar que, na primeira vaga da pandemia, do total de pessoas que testaram positivo para a infeção pelo novo coronavírus, 1 145 tinham diabetes, o que representa 5,3% do total de infetados. E nos 502 óbitos que se registaram em Portugal durante o período em análise, 83 eram pessoas que tinham diabetes. Além disso, do total de infetados, 8,8% necessitou de internamento em unidades de cuidados intensivos, uma percentagem que sobe para 20,3% no caso das pessoas com diabetes infetadas com o novo coronavírus.

Ao comentar os dados apurados, o presidente da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) sublinha que “conseguimos ver que quer o número de internamentos globais, quer o número de internamentos em cuidados intensivos, quer a mortalidade é grosseiramente três vezes superior nas pessoas com diabetes” o que leva a associação que a concluir que “têm de ser de ser tomadas para proteção das pessoas com diabetes e para um melhor controlo da diabetes que são absolutamente fundamentais”.

Afinal, acrescentou o Dr. José Manuel Boavida, “a possibilidade de complicações [da infeção por SARS-CoV-2] é menor em doentes com a diabetes controlada e há um estudo que, nestes doentes, demonstra ser praticamente sobreponível à da restante população”. E como essa investigação demonstra claramente que uma HbA1c elevada leva a um aumento das complicações e da mortalidade o presidente da APDP é claro a declarar: “O controlo da diabetes é absolutamente fundamental”.

Entre as medidas apontadas pela APDP para proteger as pessoas com diabetes estão o aumento da testagem das pessoas em maior risco, nomeadamente dos diabéticos que não puderam ficar em teletrabalho e que continuam a deslocar-se em transportes públicos, sobretudo se tiverem outras comorbilidades, como obesidade ou hipertensão, associadas à diabetes e que agravam ainda mais o risco de desenvolver Covid-19.

A segunda medida proposta passa por organizar regionalmente a atividade programada de acompanhamento do doente com diabetes. Segundo avançou o Dr. José Manuel Boavida, a APDP já mostrou disponibilidade ao Ministério da Saúde para, com o conhecimento que tem, ajudar as unidades coordenadoras funcionais da diabetes a manterem a atividade programada de centros de saúde e hospitais. Sobretudo, está em causa o seguimento de pessoas com algum grau de descompensação da diabetes ou com complicações do pé diabético, “as outras podem ser acompanhadas à distância pelo médico assistente” ou através da linha criada pela APDP.

O responsável reconhece que, “neste momento há alguma dificuldade de acesso aos cuidados de saúde, mas o grande problema é o receio que as pessoas têm de ir aos hospitais. É necessário garantir às pessoas que os hospitais têm um espaço não-Covid-19 onde podem ser vistas com toda a segurança”, situação que, acredita, melhorará também com a introdução dos testes rápidos nas instituições de saúde.

O especialista sublinha a necessidade de “dar às pessoas confiança para irem aos centros de saúde e aos hospitais” e está convencido que o “temor e o receio são os amigos do vírus”. Nessa medida, defende que “é necessário é confinar o vírus e não as pessoas” que precisam de se manter ativas e de trabalhar salvaguardando todas as medidas de segurança.

Mesmo com uma pandemia por um agente infecioso, as doenças crónicas não podem deixar de merecer atenção e preocupação, na visão do Dr. José Manuel Boavida, pois os números “exigem-nos uma atenção permanente à diabetes”. Afinal, recordou, mais de 13,5% da população portuguesa tem diabetes e cerca de 30% tem um quadro de pré-diabetes.

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