23 Mar, 2023

Casos de tuberculose diminuíram em 2021, mas diagnóstico ainda é tardio, indica relatório

De acordo com a Direção-Geral da Saúde, apesar de o número de novos casos de tuberculose ter vindo a diminuir em território nacional, Portugal continua a ser o país da Europa Ocidental com a taxa de incidência de tuberculose mais elevada.

O número de casos de tuberculose notificados por 100 mil habitantes em Portugal diminuiu em 2021, mas o ritmo da redução abrandou e o diagnóstico ainda é tardio, segundo o relatório de vigilância e monitorização hoje divulgado. O documento, publicado pelo Programa Nacional para a Tuberculose (PNT) da Direção-Geral da Saúde (DGS), refere que, embora a taxa de notificação tenha baixado em 2021, a quebra percentual foi inferior a períodos anteriores e o impacto da pandemia de covid-19 “ainda não é completamente claro”.

Os autores do relatório sublinham que a mediana de dias até ao diagnóstico mantém uma tendência crescente, tendo-se agravado em 2021 (79 dias em 2020 e 86 dias em 2021), resultando num diagnóstico mais tardio e, assim, num maior risco de contágio, que apenas é quebrado com o diagnóstico e início do tratamento. “Parece verificar-se uma tendência crescente [no número de dias até ao diagnóstico] atribuível ao utente, verificando-se um aumento de 40 dias em 2020 para 51 dias em 2021”, escrevem.

“Apesar de tudo, acho que são boas notícias, ou seja, Portugal não aumentou, porque nós tínhamos receio de que, com a covid, houvesse um recrudescimento no número de casos, pois com a pandemia houve uma menor procura dos cuidados de saúde”, disse à Lusa a diretora do PNT, Isabel Carvalho. A este respeito, Isabel Carvalho explica: “A população desvaloriza sintomas porque são similares a outras infeções respiratórias”. “Nós temos o que já tínhamos nos outros anos. A tuberculose, à semelhança dos outros países, vai-se concentrando em populações mais vulneráveis e essas populações, obviamente, têm algumas dificuldades do ponto de vista social no acesso aos cuidados de saúde”, reconhece a responsável, explicando que esta situação acaba por fazer com que se adie a procura de cuidados de saúde, o que justifica o numero de dias de atraso na procura atribuíveis ao utente.

O valor máximo de demora ocorreu novamente na população em situação de sem-abrigo, o que reforça o impacto da pandemia nos mais vulneráveis e o “papel essencial” da parceria com as estruturas comunitárias e sociais, nomeadamente as organizações não-governamentais, refere o documento, que aponta para um “ligeiro decréscimo” na demora de diagnóstico atribuível aos cuidados de saúde.

A população imigrante mantém-se como a população de maior vulnerabilidade, com uma taxa de notificação 3,8 vezes superior à média nacional (55,8 por 100 mil em 2021), embora se tenha verificado uma redução na proporção de casos em comparação com 2020. A diretora do PNT aponta uma situação que acaba por proteger a população: “Temos algo que nos vai protegendo, pois cerca de metade dos casos pulmonares são bacilíferos, ou seja, é uma proporção que se tem mantido a descer e estável e significa que a nossa proporção de contágio não é elevada”. No entanto, acrescenta que, se o paciente estiver muito tempo doente, “obviamente vai transmitir na mesma doença”.

Isabel Carvalho insiste na necessidade de diagnosticar precocemente os casos e sublinha: “Se nós sabemos que a tuberculose se concentra nos mais vulneráveis, podemos preventivamente atuar e fazer o rastreio da tuberculose, e é o que temos feito, com apoio das estruturas locais”. Sublinha igualmente a importância de oferecer o rastreio da tuberculose integrado noutros cuidados de saúde, dando como exemplo a possibilidade de o fazer às pessoas com dependências, quando elas fazem o tratamento de substituição.

Em 2021 foram notificados 1.513 casos (1.521 em 2020) de tuberculose em Portugal, 1.401 novos casos e 112 re-tratamentos, correspondendo a uma taxa de notificação de 14,6 casos por 100 mil habitantes (14,8 em 2020). Como prioridade de intervenção, os responsáveis do PNT apontam a identificação dos mais vulneráveis, nomeadamente dos que têm risco acrescido de exposição ou que possam ter dificuldade no acesso aos cuidados de saúde.

A este propósito, numa nota divulgada, a Direção-Geral da Saúde refere que dar prioridade a esta população “permitirá acelerar a redução da incidência da doença e apostar no tratamento preventivo, evitando futuros novos casos”. A DGS adianta ainda que abriu concursos para apoio financeiro às organizações comunitárias, promovendo o rastreio e apoio na administração da medicação nos grupos vulneráveis, em áreas geográficas de maior incidência.

LUSA

Notícia relacionada

Incidência da tuberculose caiu mais de 30% em Portugal desde 2015

Print Friendly, PDF & Email
ler mais
Print Friendly, PDF & Email
ler mais