11 Mar, 2024

Autismo. “A família pode ficar refém nas mãos de profissionais que não tenham capacitação”

Nos dias 16 e 17 de março decorre o Congresso Europeu do Autismo 2024 (CEA 2024), na Fundação Champalimaud. Indihara Horta, fundadora do Centro de Desenvolvimento Infantil Kuzola Mona e Presidente da Comissão Organizadora, realça a importância da formação para se lidar com “o universo do autismo”.

Quais os principais desafios de profissionais de saúde e das famílias quando surge o diagnóstico de autismo?

O diagnóstico de autismo pode ser um desafio principalmente no que respeita ao caminho a tomar em primeiro lugar. É necessário saber como dar início a tratamentos específicos e acompanhamentos especializados, sabendo que existe capacitação para fornecer esses serviços. A família, muitas vezes, pode ficar refém nas mãos de profissionais que não tenham capacitação e formação adequada para lidar com as necessidades de cada paciente. Tomar essas decisões e ainda conseguir gerir toda a parte emocional e expetativas que as famílias idealizam a respeito do diagnóstico não é tarefa fácil, existem muito medos e incertezas. Por isso, a informação é tudo.

Para os profissionais, o ponto central é o acesso a capacitações e formações que os preparem para lidar com o universo do autismo. Lidar com essa quantidade de informações e saber gerir as melhores práticas pode ser um desafio. Trabalhar com autismo não é tarefa fácil, são muitas as expectativas da família relativamente à atuação do profissional, é preciso cuidar da própria parte emocional e saber gerir os conflitos que aparecerem.

 

Quais as principais novidades terapêuticas na área do autismo?

A ciência produz muito conhecimento e este é mutável, ou seja, não existem verdades eternas ou absolutas. Novos procedimentos e técnicas surgem de tempos em tempos para melhorar o desenvolvimento de crianças e adolescentes com autismo. O cuidado a ter diz respeito à qualidade dessas técnicas e quais são realmente as mais efetivas. Podemos dizer que, atualmente, muitas pesquisas mostram o sucesso de intervenções comportamentais. Por exemplo, as formações familiares baseadas em análise do comportamento, em que os profissionais preparam ou ensinam de forma sistemática a família sobre como aplicar processos de ensino de novos comportamentos com os seus filhos e filhas tem mostrado resultados incríveis.

Além disso, formações intensivas com cargas horárias semanais altas possibilitam modificações em comportamentos nos vários ambientes que o paciente frequenta, por exemplo, casa e escola. Essa intervenção também tem mostrado a melhoria na qualidade de vida de muitos pacientes e suas famílias. Um último ponto, é a efetividade do tratamento multidisciplinar, em que vários profissionais de áreas diferentes alinham a sua área de intervenção para alcançar objetivos únicos com os pacientes. O tratamento, nesta perspetiva, passa a ser gerido de forma organizada e focado em metas alcançáveis. E cada profissional consegue contribuir com o seu conhecimento específico na prática do outro.

“Cada criança é única e o espectro dos sintomas e comportamentos podem ser diferenciados para cada paciente. Nesse sentido, não há tempo a perder”

Que mais-valias podem trazer face aos tratamentos atuais?

Estes tratamentos podem trazer desenvolvimentos mais rápidos e precisos, além de focalizar-se na individualidade de cada paciente, respeitando cada família relativamente à sua expectativa em relação ao tratamento clínico. O autismo pode proporcionar alguns atrasos em várias habilidades do desenvolvimento como linguagem, socialização, cognição, habilidades sociais e problemas de comportamento. Cada criança é única e o espectro dos sintomas e comportamentos podem ser diferenciados para cada paciente. Nesse sentido, não há tempo a perder, quanto maior o foco do tratamento, maiores as oportunidades desse paciente ter um ótimo prognóstico clínico.

 

São respostas terapêuticas para todos os casos de autismo, incluindo perturbações do espetro do autismo?

Sim, todos os casos requerem aspetos diferentes, mas o tratamento clínico comportamental baseado nas melhores evidências científicas consegue abraçar todas as características do espectro, dando um caminho clínico palpável para cada um, na sua especificidade. Com o trabalho multidisciplinar, dentro de uma linha de desenvolvimento comportamental, cada profissional consegue contribuir para que essas diferentes faces do espectro do autismo sejam atendidas e bem direcionadas.

 

MJG

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