Atualizações em DPOC
Coordenadora da Unidade de Sono e VNI do Serviço de Pneumologia da ULS Santa Maria/Professora da Faculdade de Medicina de Lisboa

Atualizações em DPOC

A DPOC continua a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade a nível mundial, prevendo-se que venha a constituir a 3.ª causa em 2030. Tendo em conta este facto e a vasta investigação nesta área com um crescente desenvolvimento de novos fármacos, as recomendações da iniciativa GOLD sofrem atualizações anuais, destacando-se neste texto as novidades da última atualização de 2024.

O tabagismo é o principal fator de risco para o desenvolvimento de DPOC nas suas formas convencionais, nas novas formas de tabaco e consumo de cannabis. No entanto, devem ser enfatizadas outras etiologias, nomeadamente a exposição a biomassas, o défice de alfa1-antitripsina, a poluição ambiental, as infeções na infância e as alterações do desenvolvimento como baixo peso à nascença e parto pré-termo.

Existem indivíduos com exposição a fatores de risco e com sintomas e que não apresentam obstrução na espirometria, devendo esta entidade ser designada de Pré-DPOC. Foi assim criado o termo PRISm (Preserved Ratio Impaired Spirometry) para descrever estes indivíduos que apresentam uma razão FEV1/FVC pós broncodilatação  ³ 70%, tendo, no entanto, um valor de FEV1 < 80% após broncodilatação. É de referir que 20 a 30% dos indivíduos com PRISm podem desenvolver DPOC ao longo dos anos, pelo que devem também ser tratados.

A classificação das categorias da DPOC foi alterada já no documento de 2023, sendo os doentes divididos em mais sintomáticos (B) ou menos sintomáticos (A) e exacerbadores (E), apresentando um modelo de abordagem personalizada da DPOC para o início da terapêutica, mas também para as reavaliações subsequentes, tendo em conta a persistência dos sintomas e/ou aparecimento de exacerbações sob a terapêutica prescrita.

Ao nível do tratamento farmacológico, a terapêutica inicial dos doentes GOLD A deve consistir num broncodilatador de longa ação e, nos doentes GOLD B, o tratamento deve ser iniciado com dupla broncodilatação (associação LABA/LAMA).

Nos doentes GOLD E, o tratamento deve ser iniciado com a associação LABA/LAMA e se tiverem valores de eosinófilos ³ 300, deverá ser considerada a terapêutica tripla (LABA/LAMA/ICS). A associação LABA/ICS já não tem indicação no tratamento da DPOC, tendo em conta a superioridade da terapêutica tripla.

Tendo em conta a enorme variedade de inaladores é dado uma grande ênfase à importância do ensino da técnica inalatória na promoção da adesão à terapêutica, devendo ser incentivada a utilização de terapêutica em dispositivo inalatório único, em detrimento de múltiplos inaladores.

Para além do tratamento farmacológico, a redução dos fatores de risco, como a cessação tabágica, a prática de exercício físico, a reabilitação respiratória e a vacinação (influenza, pneumocócica, SARS-CoV2, Bordetella pertussis, herpes zoster e vírus sincicial respiratório) são medidas fundamentais na gestão da DPOC. Assim, a terapêutica da DPOC deve ser cada vez mais personalizada, tendo em conta as características individuais do doente, nomeadamente sintomatologia, a presença de exacerbações e ainda de comorbilidades.

 

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