13 Dez, 2024

ASTOR 2025. “Não existe um tratamento para a dor que seja igual para todos os doentes”

O Congresso “ASTOR 2025 - 32º Congresso de Medicina da Dor” vai realizar-se nos dias 31 de janeiro e 1 de fevereiro de 2025, no Grande Auditório do ISCTE, em Lisboa, e terá como tema principal “Medicina à Medida”. Elsa Verdasca, responsável pelo evento, fala sobre a abordagem individualizada da dor.

Porquê a temática “Medicina à Medida” no Congresso da ASTOR 2025?

Geneticamente, temos cada vez mais a noção de que somos diferentes em termos de bioquímica cerebral, de reação a fármacos, entre outros aspetos. Com esta temática central, basicamente, assume-se que não existe um tratamento para a dor que seja igual para todos os doentes. Podem ser disponibilizados fármacos e protocolos, mas é sempre preciso ter em foco uma Medicina que seja personalizada, individualizada.

Que desafios estão inerentes à Medicina Personalizada?

Antes de mais, implica uma gestão adequada, individualizada, dos fármacos, mas não só. Mesmo em técnicas não farmacológicas, é preciso ter em atenção as necessidades e as especificidades do doente. Por exemplo, se a minha doente não gostar de água, não vou indicar-lhe hidroterapia. Posso optar, antes, por Pilates. Se uma pessoa tem fobia de agulhas, não vou fazer uma infiltração ou bloqueio do nervo, vou optar por tratamentos transdérmicos. Mesmo em relação à consulta de seguimento, é preciso saber se o doente prefere teleconsulta ou presencial, porque, muitos, em idade ativa e a viverem longe do hospital, podem ter mais dificuldades na deslocação. E, inevitavelmente, é preciso perceber se existem necessidades psicológicas, que exijam psicoterapia, ou, musicoterapia, por exemplo.

“… é fundamental existir sempre um elo de ligação nos cuidados de saúde primários, ou seja, um médico que tem um particular interesse por esta área e que pode contactar com o hospital e orientar os colegas”

Para que a Medicina seja de facto personalizada, devem existir mais centros multidisciplinares de dor?

Sim, é importante que haja esse tipo de centros, com profissionais de diversas áreas de conhecimento. Nesses centros conseguem obter-se melhores resultados, face também à oferta de medidas farmacológicas e não farmacológicas. Contudo, nem todos os hospitais têm condições para tal, nomeadamente por escassez de recursos humanos. Mas o ideal é ter-se, pelo menos, uma consulta de dor e uma unidade de dor.

“Mesmo assim, ainda persiste, nalguns casos, uma subvalorização da dor, sobretudo nos idosos”

O contacto com os cuidados de saúde primários também é considerado essencial no tratamento da dor, sobretudo da dor crónica. Com a expansão das unidades locais de saúde (ULS), tem sido mais fácil a articulação entre cuidados primários e hospitalares?

Em teoria, sim, as ULS permitem maior articulação. Mas, em termos práticos, ainda temos que limar várias arestas. Penso que é fundamental existir sempre um elo de ligação nos cuidados de saúde primários, ou seja, um médico que tem um particular interesse por esta área e que pode contactar com o hospital e orientar os colegas. Nas unidades de saúde familiar (USF), cerca de 40% dos doentes apresenta dor crónica. Além dessa comunicação, poder-se-ia também ter uma consulta dedicada à dor. Há outras formas de interação como consultoria ou uma linha telefónica direta, que permitiria, inclusive, falar com os especialistas hospitalares em situação de dúvida e evitar referenciações não necessárias.

A dor crónica já é mais reconhecida como doença ou ainda existe algum estigma e subvalorização das queixas?

Ainda há um caminho a percorrer, mas estamos melhor do que há uns anos. Isso é percetível no elevado número de referenciações para unidades de dor ou centros multidisciplinares de dor. Mesmo assim, ainda persiste, nalguns casos, uma subvalorização da dor, sobretudo nos idosos. Mas não é verdade que viver com dor é normal ou que faz parte do envelhecimento.

MJG

Notícia relacionada

Doentes com fibromialgia exigem “avaliação correta” da patologia

ler mais

Partilhe nas redes sociais:

ler mais