6 Dez, 2022

Associação EVITA defende dia nacional e registo próprio para cancro hereditário

O cancro hereditário representa 10% de todos os cancros e a EVITA apela à necessidade de se discriminar os casos de origem hereditária dos de origem esporádica.

A associação EVITA, que apoia portadores de alterações genéticas relacionadas com cancro hereditário, defende a criação de um registo oncológico para este cancro que permita desenhar uma estratégia para evitar a doença e reduzir a mortalidade precoce.

Comentando os dados do Registo Oncológico Nacional (RON 2019), que apontam para 57.878 novos casos de cancro e 28.464 óbitos, Tamara Milagre, presidente da associação, diz que “uma coisa que se destacou foi que aumentaram os cancros nas mulheres em idade reprodutiva”. “Será que o cancro hereditário está a ganhar mais peso porque estamos a subidentificar portadores de alterações nos genes relacionados com o cancro hereditário? Eu acredito que sim”, afirmou.

Segundo os dados do RON 2019, os novos casos de cancro aumentaram quase 20% relativamente a 2010. Os homens continuam a ter uma taxa de incidência superior às mulheres, um facto que se verifica para todos os grupos etários, à exceção das mulheres em idade fértil. “O hereditário está lá, mas não está identificado. E qualquer argumentação para um financiador ou para um decisor sobre se este cancro é ou não muito caro e sobre o impacto socioeconómico, só posso falar se souber quantas pessoas são afetadas”, acrescentou a responsável.

A este respeito, a EVITA vai em breve iniciar um projeto de investigação (“HBOC-EFFECT”), em parceria com o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S), o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, a Nova Medical School (NMS) e a Nova School of Business and Economics (Nova SBE), precisamente para apurar a carga socioeconómica do cancro da mama e ovário hereditário.

A associação tem defendido a necessidade de uma “estratégia inovadora” que consiga ter um impacto significativo na diminuição da incidência e das mortes precoces pelas síndromes que envolvem os cancros mais frequentes e os mais letais em Portugal e na Europa: mama, próstata, colorretal, estômago, tiroide, pâncreas, útero, ovário e melanoma, entre outros. O cancro hereditário representa 10% de todos os cancros e resulta de mutações genéticas germinativas, herdadas de forma autossómica dominante, o que significa que “todos os familiares de primeiro grau de um portador de mutação genética têm 50% de probabilidade de também o serem”, refere a EVITA, sublinhando que estas mutações “são facilmente detetadas através de um teste genético”.

Tamara Milagre lembra que este cancro acontece tipicamente em idade precoce, muito antes de qualquer rastreio populacional, e soma vários casos de cancro na mesma linhagem familiar, sublinhando que a mutação apenas costuma ser identificada quando a pessoa já foi diagnosticada. “Só nessa altura é que os restantes familiares podem ser aconselhados a fazer o teste genético e prevenir a doença”, sublinha a responsável, insistindo que, apesar de apresentar o maior potencial de prevenção/diagnóstico precoce, este cancro continua com “taxas inaceitáveis” de diagnósticos tardios.

Para a EVITA, que vai ser recebida na quarta-feira na Assembleia da República pelos deputados da Comissão de Saúde, é essencial também a criação do Dia Nacional do Cancro Hereditário, para dar mais destaque e estimular o debate sobre este cancro. O dia escolhido é o 23 de maio, dia do falecimento de Aldred Scott Warthin, um patologista americano cuja pesquisa lançou as bases para a compreensão da hereditariedade de certos tipos de cancro e que é considerado “o verdadeiro pai da genética”.

LUSA

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