Asma. “Ainda verificamos, aos dias de hoje, algum subdiagnóstico”

Em entrevista ao SaúdeOnline, o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) destaca o subdiagnóstico, o subtratamento e o subcontrolo dos doentes com asma como um dos principais desafios da prática clínica da Imunoalergologia.

Quais são, atualmente, os grandes desafios à prática clínica da Imunalergologia a nível nacional?

Os principais desafios da prática da Imunoalergologia prendem-se com a nossa capacidade de utilizar, sem grandes problemas, as terapêuticas mais inovadoras. A utilização destas terapêuticas inovadoras, por enquanto, não é possível aos imunoalergologistas que estão nos hospitais privados, o que, desde logo, não se compreende muito facilmente, porque se houver um doente com asma grave, por exemplo, que necessite de fazer um biológico, deveria poder fazê-lo no local onde é seguido, sem necessidade de transferência para o SNS. Portanto, a acessibilidade mais universal a medicamentos inovadores que fazem a diferença é, à cabeça, um dos grandes desafios da nossa prática clínica.

Outra situação que impacta a nossa prática clínica e que já vem de trás – apesar das nossas diligências [da SPAIC] junto do Infarmed – é a continuidade da não comparticipação da imunoterapia específica, vulgarmente conhecida como “vacina antialérgica”, algo que continua a ser incompreensível, na medida em que tem ampla demonstração de vantagens farmacoeconómica, de saúde, quer na prevenção, quer no tratamento. Como tal, é incompreensível que se limite o acesso a estas terapêuticas apenas a quem tem dinheiro para as pagar. Não haver comparticipação nenhuma é uma situação que exclui das vacinas grande parte dos nossos utentes do SNS.

Além dos aspetos que se prendem com a acessibilidade a medicamentos, há que salientar, como desafio à prática clínica dos imunoalergologistas, o ainda grande desconhecimento e o nível de subdiagnóstico que ainda existe acerca de algumas patologias alérgicas, nomeadamente da asma. Ainda verificamos, aos dias de hoje, e a propósito do Dia Mundial da Asma, algum subdiagnóstico. Os doentes ainda não estão identificados na totalidade e, portanto, há um número elevado que permanece subtratado e insuficientemente controlado. Este é um aspeto que temos vindo a melhorar ao longo dos últimos anos, mas que ainda se mantém como um desafio.

Falando de patologia alérgica, quais as que mais preocupam a nível nacional e porquê? A asma é uma delas?

A asma é uma delas, mas temos várias situações que têm vindo a registar um acréscimo significativo ao longo dos últimos anos, como é o caso da alergia a medicamentos e/ou a alimentos, às vezes com quadros graves anafiláticos, que são os casos mais preocupantes.

Toda a patologia alérgica se carateriza por induzir alterações muito relevantes na qualidade de vida dos doentes. Felizmente que, ao longo do tempo, têm surgido novas opções terapêuticas. A urticária crónica e o eczema atópico grave, por exemplo, são situações em que temos vindo a ter mais respostas terapêuticas para os doentes. Nos casos mais graves, há indicação para terapêuticas inovadoras, na medida em que a sintomatologia é muito incomodativa para o doente e, por isso mesmo, muito importantes para o médico.

Não sendo tão valorizada pelo doente, a rinite também é preocupante em termos de prevalência e de subdiagnóstico?

A rinite tem importância por vários motivos: pelo impacto na qualidade de vida que uma rinite inadequadamente tratada pode provocar, mas também pelas patologias a que a rinite não controlada se pode associar, como a asma e a sinusite.

Tem havido novidades terapêuticas na asma, capazes de revolucionar o tratamento desta patologia? Há novos tratamentos na calha?

Na asma, surgiu nos anos 2000 o primeiro biológico (anti-IgE) de há cinco anos a esta parte surgiram outros biológicos (os anti-interlucina-5). Atualmente também já se viu a aprovação para a asma grave de um outro biológico (anti-interlucina-4).

Na calha estão outros fármacos, também biológicos (antagonistas da via TH2). Outra grande novidade nos doentes que têm uma asma que é não-T2 – nem é alérgica, nem é eosinofílica –, para os quais não tínhamos qualquer resposta até agora, perspetiva-se, no futuro próximo, a dois ou três anos, novos medicamentos biológicos, uma vez que estes doentes respondem mal aos corticoides e não respondem/não têm indicação para os biológicos atualmente disponíveis. Estes sãos os doentes que atualmente nos deixam muito “de mãos atadas”, pelo que esta é uma excelente notícia.

Melhorámos muito a nossa oferta terapêutica em asma e em rinossinusite com polipose nasal e penso que nos próximos anos seremos capazes de melhorar alguma coisa em subgrupos de doentes para quem os biológicos atuais ainda não têm indicação.

SO

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