22 Dez, 2023

“As doenças reumáticas são responsáveis por uma grande morbilidade”

Augusto Faustino, presidente do Instituto Português de Reumatologia (IPR), fala sobre os 75 anos do Instituto, mas também critica o facto de não se dar ainda a devida atenção às doenças reumáticas. Defende também um estágio obrigatório nesta área para os futuros médicos de família.

“As doenças reumáticas são responsáveis por uma grande morbilidade”

“O envelhecimento da população e o aumento da fragilidade exige que se dê cada vez mais importância às doenças reumáticas e, por conseguinte, à Reumatologia”, afirma Augusto Faustino. O especialista alerta para o impacto negativo das doenças reumáticas, defendendo assim que as mesmas deviam ser vistas como uma prioridade por parte da Tutela. “Infelizmente, são desvalorizadas e consideradas patologias evitáveis e próprias da fatalidade do envelhecimento, mas isso não é verdade”, enfatiza em entrevista ao SaúdeOnline.

O reumatologista afirma que, caso sejam diagnosticadas atempadamente, pode-se evitar quer o sofrimento decorrente do seu agravamento quer os custos diretos e indiretos. Como realça, “as doenças reumáticas são responsáveis por uma grande morbilidade, sofrimento e custos económicos para doente, família, sociedade”. Face a esta realidade, Augusto Faustino é perentório: “É completamente incompreensível não haver mudanças, não se dar mais atenção a este problema de saúde.”

O presidente do IPR lembra que já existiu um Programa Nacional contra as Doenças Reumáticas da Direção-Geral da Saúde, contudo, o mesmo deixou de ser prioritário em 2020. Acrescem ainda as dificuldades relativas à rede de referenciação hospitalar em Reumatologia, que tem tido diferentes versões. “Estas doenças não são tão mediáticas como a diabetes ou as cardiovasculares  por não terem um peso tão grande em termos de mortalidade, mas não deixam de causar grande sofrimento e de acarretar vários custos com baixas por incapacidade e com reformas antecipadas.”

Outro ponto que faria toda a diferença, na sua opinião, é a formação obrigatória em Reumatologia no internato de formação específica (IFE) dos médicos de família. “É inadmissível que os futuros especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) não sejam obrigados a fazer estágio nesta área; eles próprios são unânimes em considerar que é uma mais-valia para a sua prática clínica.”

O reumatologista sublinha a importância destes profissionais de saúde, que acompanham os utentes ao longo da vida,  e pede para que deem especial atenção a casos de dor, porque “90% dos doentes reumáticos têm esta sintomatologia”. “Deve-se perceber o que está subjacente a esse quadro álgico quando não se trata de uma causa traumática, pois pode ser uma doença reumática.”

O diálogo entre a MGF e o IPR há muito que é uma realidade, assim como com outras especialidades, o que é visível, em particular, nas Jornadas Internacionais do IPR, que decorrem todos os anos em novembro. “Numa fase inicial, é preciso referenciar-se para Reumatologia, mas inevitavelmente o acompanhamento tem de ser multidisciplinar.”

Quanto ao número de especialistas em Reumatologia, mostra-se satisfeito e com esperança no futuro, já que tem havido um aumento do número de internos. Esta aposta na especialidade deve-se muito, segundo diz, ao trabalho desenvolvido ao longo dos 75 anos do IPR, uma casa que abriu portas quando ainda não havia a especialidade. “Temos contribuído imenso para a formação de reumatologistas, aliás, os centros que começaram a surgir nos hospitais contaram com profissionais da casa.”

Augusto Faustino destaca ainda as mais-valias do Instituto para os doentes que têm acesso a uma equipa multi e interdisciplinar – Reumatologia, Consultas específicas de patologia, Podologia, Reabilitação. Esperam ainda voltar a ter, num futuro próximo, Psicologia e Terapia Ocupacional. “Sinto um enorme respeito e admiração pelos profissionais do IPR que, desde o início, contribuíram para a criação e o desenvolvimento da Reumatologia, que é tão importante para os doentes”, reitera.

MJG

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