14 Abr, 2022

Apenas 15% dos fumadores desenvolvem cancro do pulmão. Estudo sugere explicação

Investigação publicada na revista Nature Genetics sugere que alguns fumadores têm organismos muito eficientes a reparar danos no ADN.

Entre 80% e 90% dos diagnósticos de cancro do pulmão estão relacionados com o tabagismo. No entanto, apenas uma minoria dos fumadores, cerca de 15%, terão um diagnóstico de cancro do pulmão, segundo diz o Diretor da Unidade de Pulmão da Fundação Champalimaud, em declarações à Visão.

Um novo estudo sugere um explicação para este facto: alguns fumadores desenvolvem mecanismos de defesa que permitem limitar a progressão de mutações nas células do pulmão.

É sabido que o tabagismo gera mutações nas células do pulmão, o que aumenta o risco de cancro. Este estudo, levado a cabo pela Albert Einstein School of Medicine, e publicado na revista científica Nature Genetics, descobriu que “o nivelamento das mutações nalgumas pessoas pode decorrer do facto de essas pessoas terem organismos muito eficientes a reparar danos de ADN”.

Os investigadores utilizaram uma nova técnica, conhecido por SCMDA, que permite identificar com mais precisão as mutações celulares, reduzindo os erros de sequenciamento. O método foi usado para comparar as mutações nas células epiteliais pulmonares de 14 pessoas que nunca fumaram, com idades entre os 11 e os 86, e de 19 fumadores, com idades entre os 44 e os 81. No caso dos fumadores, o único requisito era a quantidade de cigarros fumada ao longo da vida, que não podia exceder os 116 “anos-maço” – o equivalente a fumar um maço por dia durante 116 anos.

A equipa de cientistas descobriu que as mutações se acumulavam nas células pulmonares de não fumadores à medida que estes envelhecem. No entanto, e como seria de esperar, um número significativamente maior de mutações foram encontradas nas células pulmonares dos fumadores.

No entanto, o estudo chegou a uma conclusão curiosa: após 23 anos a fumar pelo menos o equivalente a 1 maço por dia, a acumulação de mutações nos pulmões observados simplesmente parava. “Os ‘maiores’ fumadores ​​não tiveram a maior carga de mutação”, revelou o professor de Pneumologia Simon Spivak, um dos autores do estudo. Ou seja, apesar de estes indivíduos terem fumado muito, “conseguiram suprimir a acumulação de mutações” por “terem sistemas muito eficientes a reparar danos de ADN”.

Esta descoberta pode ser um “passo importante para a prevenção e deteção precoce do risco de cancro de pulmão”, de modo a evitar o tratamento em fases mais avançadas da doença, com um prognóstico significativamente pior. Os investigadores querem continuar a realizar estudos que aprofundem o conhecumento sobre a capacidade de algumas alguns organismos repararem os danos no ADN.

SO

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