26 Set, 2018

Administrador do Hospital de Gaia nunca pensou deixar o cargo, ao contrário do que pedia o bastonário dos médicos

António Dias Alves disse ainda, em entrevista à Agência Lusa, ter ficado “muito surpreendido” com o anúncio da demissão do diretor clínico e dos 51 chefes e diretores de serviço, garantindo não ter recebido "nenhum pedido de demissão".

“Não estou aqui por carreiras políticas ou pessoais, o meu lugar está sempre à disposição de quem me nomeia, sempre, e eu estou aqui numa perspetiva de serviço público, como é normal”, afirmou António Dias Alves.

Deixando claro que não assumiu a administração para “fazer carreira política, ganhar poder ou mais dinheiro”, o responsável revelou que o Conselho de Administração, quando tomou posse, enviou um compromisso escrito ao Ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, com o que se propunha fazer.

“Fizemos uma coisa que não é obrigatória, nem pedida pela tutela, mas por iniciativa própria fizemos um compromisso escrito onde deixamos o compromisso de servir o hospital”, afirmou. Dias Alves contou que esse compromisso foi assumido por todo o Conselho de Administração tendo, posteriormente, sido comunicado de forma resumida a toda a unidade hospitalar.

Questionado sobre as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, que aquando do anúncio da demissão dos 52 profissionais de saúde com funções de chefia pediu a sua substituição, António Dias Alves deixou claro não ter nada contra ele, assim como ele não deve ter nada contra si. “Não me parece que tenha nada contra mim, já o convidei para estar num grupo de trabalho, portanto, não tenho nada contra ele”, vincou.

Quanto aos pedidos de demissão, o administrador garante ter ficado surpreendido. “Fiquei surpreendido e não estava à espera. Para mim [o anúncio de demissão dos profissionais no início do mês] foi uma grande surpresa”, afirmou, uma semana depois de ter sido ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde, em Lisboa.

Dias Alves assinalou que, perante os problemas públicos da unidade de saúde, a administração decidiu ouvir os profissionais de saúde, agora demissionários, para se inteirar das suas queixas e, posteriormente, realizou duas reuniões com “todos os quadros”, pedindo-lhes sugestões para ultrapassar os constrangimentos atuais.

Além disso, a administração apresentou um ofício ao ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, pedindo a resolução “urgente” dos “problemas graves” do hospital, desde falta de pessoal, equipamentos e instalações.

Demissões: “As pessoas precipitaram-se”

Nesta sequência, contou, realizou-se em meados de agosto uma reunião com “todo” o Ministério da Saúde, a administração do centro hospitalar e o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, da qual “todos os presentes, sem exceção,” saíram “satisfeitíssimos”, vincou.

“Saímos dela [reunião] todos satisfeitíssimos. O diretor clínico vinha muito satisfeito, sentimento que transmitiu na reunião seguinte do Conselho de Administração”, adiantou António Dias Alves.

Por esse motivo, e havendo já o compromisso do ministro da Saúde de investir no hospital, o presidente da administração considerou que o anúncio das demissões foi “precipitado”, podendo ter-se baseado num “estado de alma”. “As pessoas precipitaram-se por pessimismo, por não estarem totalmente dentro do assunto ou por terem aceite eventuais conselhos ou opiniões. Quem esteve na reunião sabe que houve comprometimento do ministro e colaboração da Câmara na defesa do hospital”, vincou.

“Não houve nenhum pedido de demissão”

Além disso, o presidente da administração revelou que, segundo informações de alguns médicos demissionários, a sua substituição “nunca foi pedida, nunca foi discutida, nunca esteve em causa”. “Os médicos manifestaram-se publicamente dizendo que nunca ninguém pediu, nunca esteve em causa, nunca foi discutida. O bastonário terá dito isso sem ter sido mandatado para tal, segundo informações que me chegaram”, frisou.

Tal como afirmou na Comissão Parlamentar de Saúde, Dias Alves reafirmou que “não houve nenhum pedido de demissão”, tendo apenas recebido um envelope sem remetente com uma “fotocópia de uma fotocópia”. “O que eu recebi foi um envelope que chegou anonimamente, ninguém sabe quem o entregou, não tem remetente e tem um conjunto de fotocópias que não são dirigidas a ninguém”, revelou.

O presidente da administração recordou que quando alguém pede a demissão fá-lo a quem preside a unidade hospitalar, acrescentando que não vindo dirigido a ninguém não sabe como pode dar encaminhamento ao assunto, porque não existe um “verdadeiro pedido de demissão”. “Era uma carta que espelhava o estado de alma em determinado momento”, contou.

A demissão do diretor clínico e dos diretores e chefes de serviço do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho foi anunciada a 05 de setembro, nas instalações do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.

Os 52 profissionais redigiram uma carta de demissão em julho, altura em que ponderaram demitir-se, mas só no início deste mês concretizaram essa intenção.

Em conferência de imprensa, no Porto, o diretor clínico demissionário José Pedro Moreira da Silva apontou então como causas para a demissão coletiva as “condições indignas de assistência no trabalho e falta de soluções da tutela”.

LUSA

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