6 Jan, 2022

“A saúde pública está a estoirar. É impossível acompanhar [a Ómicron]”

Previsões apontam para um pico de mais de 100 mil infeções diárias em janeiro. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes alerta que "haverá um momento em que é impossível acompanhar".

Perante o constantes recordes do número de novas infeções por SARS-CoV-2 registadas em Portugal, a Saúde Pública sente cada vez maior dificuldade em acompanhar não só os casos positivos mas os respetivos contactos de risco, tarefa essencial para o objetivo de tentar travar as cadeias de contágio do vírus.

Apesar dos reforços nas equipas anunciados pelo governo (a que, entretanto, se juntaram também os militares), é difícil acompanhar a velocidade atual de infeções, trazidas pela variante Ómicron. O epidemiologista Manuel Carmo Gomes defende que se deve fazer o possível por travar, ao máximo, o número de infeções pela nova variante. No entanto, o especialista considera, em declarações ao jornal Inevitável, que “será necessário definir limites sobre a capacidade de testagem e rastreio de contactos em face do aumento de infeções”.

“A saúde pública está a estoirar, a percentagem de casos que não são rastreados está a aumentar. Acho que devemos ir até um certo ponto para travar a rapidez com que a Omicron se propaga mas haverá um momento em que é impossível acompanhar, consomem-se os cuidados primários e saúde pública. Qual é esse ponto, não sei mas é algo em que se deve refletir”, avisa o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Manuel Carmo Gomes considera que “querer parar este vírus é como querer parar as constipações no inverno. Parece impossível”.

Recorde-se que as previsões apontem para uma subida dos novos contágios nas próximas semanas em Portugal, podendo ser alcançadas as 100 mil novas infeções diárias até 24 de janeiro, segundo as projeções do Instituto Superior Técnico (IST). Já o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) espera 40 mil a 130 mil novos casos, com o pico esperado para o início de janeiro.

Os médicos de saúde pública pedem mais meios, nomeadamente com a integração nas equipas de profissionais da área social, e nem a decisão da Direção-Geral da Saúde de reduzir o período de isolamento de infetados assintomáticos e de contactos de alto risco pode aliviar o cenário de sobrecarga. “Apesar de haver alguns profissionais que vão ficar libertos do constante contacto com os isolados, porque ficam menos tempo em isolamento, a realidade é que há tantas pessoas para contactar que não é essa redução de três dias que vai trazer uma mudança para a saúde pública”, diz o vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública.

Para Gustavo Tato Borges, face ao atual agravamento da situação epidemiológica, com um crescimento substancial do número de casos nas últimas semanas, “o que era preciso era um reforço de profissionais que estivessem disponíveis para fazer os contactos”.

SO

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