A inovação ao serviço da pessoa que vive com cancro da mama
Diretor do Departamento de Oncologia do Centro Hospitalar Lisboa Norte, EPE, Hospital Santa Maria, Diretor do Centro de Investigação Clínica no CAML (Centro Académico de Medicina de Lisboa)

A inovação ao serviço da pessoa que vive com cancro da mama

Podemos assumir que o desejo de usufruir do melhor que a inovação pode oferecer para solucionar um problema tão complexo como a doença oncológica seria uma combinação perfeita em qualquer campanha sobre cancro da mama. Como tal pode acontecer? Quais os motivos que podem impedir o sucesso nesta convergência?

A inovação aproxima-se de qualquer cidadão de muitas formas, mas a sua utilidade para uma situação específica requer uma solução individualizada e requer uma equipa de saúde preparada para orientar com segurança a mulher que teve o diagnóstico de cancro da mama.

Medicina personalizada é, sobretudo, a navegação através da evidência científica para uma proposta individualizada, com uma comunicação credível e capaz de ser executada por uma equipa experiente.

O trajeto para um tratamento bem-sucedido ocorre em diferentes etapas e com equipas multidisciplinares. A Inovação é tão importante no método de imagem que avalia a extensão da doença, como no detalhe com que o tumor é caracterizado e, obviamente, na escolha das propostas terapêuticas feitas pela cirurgia, pela oncologia e pela radio-oncologia entre outras.

Hoje sabemos que inovações que foram marcantes na história do tratamento do cancro da mama, geraram mais inovação em outras áreas do conhecimento na orientação terapêutica do cancro da mama.

Também, está a ser muito claro que a estratégia de introduzir a inovação para um maior sucesso em todas as mulheres e famílias afetadas por cancro da mama deve ter uma abordagem mais holística, mais completa, e que envolve não só o cancro (o tecido tumoral), mas também a pessoa (o hospedeiro) e mesmo o seu ambiente.

Neste contexto, uma nova dimensão tem um grande interesse na prevenção, no tratamento e na recuperação após tratamento do cancro da mama: o exercício físico.

O afluxo de informação científica sobre cancro da mama não para de crescer. No dia em que escrevi estas linhas, a simples pesquisa na PubMed utilizando o termo “Breast Cancer” obtive 498336 artigos. O mais recente, reportava sobre o impacto do rastreio de cancro da mama entre os 40 e os 49 anos de idade no Canadá, com resultados positivos sobre a sobrevivência aos 10 anos (publicado a 4 de Agosto de 2023 no Journal of Clinical Oncology – jornal oficial da Sociedade Americana de Oncologia).

É importante que haja inovação na estratégia de conseguir “entregar” toda a informação científica útil para a resolução de problemas clínicos e na capacidade de a tornar acessível (de forma prática) a todos os cidadãos que dela necessitem. Para o primeiro objetivo, acredito que a inteligência artificial pode dar um contributo decisivo em combinação com equipas multidisciplinares experientes, já para o segundo objetivo, evitar a exclusão do benefício da ciência a todos os cidadãos, requer uma coragem política (verdadeira política de saúde) que tarda em ser “inovadora”.

Qual é o melhor segredo para uma inovação mais próxima de quem precisa: a motivação de vencer e de ajudar.  Neste papel, a sociedade civil, com as associações de doentes e não só, devem ser um motor imprescindível nesta tarefa. Muitas das grandes descobertas no tratamento do cancro tiveram uma “motivação pessoal”; a estratégia política também pode beneficiar desta razão.

 

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