Fibrilhação Auricular e Demência Vascular
Cardiologista

Fibrilhação Auricular e Demência Vascular

O cérebro controla diferentes funções como a atenção, memória, linguagem, capacidade e velocidade de integração de informação visual e falada e de decisão. O conjunto dessas funções designa-se função cognitiva.

Considera-se que a idade e ou a presença de doenças que afetam o cérebro contribuem para a perda parcial ou total de uma ou várias dessas funções, condicionando um quadro de disfunção cognitiva (DC). Quando existe suficiente compromisso cognitivo que comprometa a relação social e ou ocupacional estamos perante um quadro de demência. A maioria dos casos de demência observa-se em indivíduos com mais idade, estimando-se 55 milhões de casos a nível mundial e 10 milhões de novos casos anualmente.

A demência tem um peso importante a nível pessoal, social e económico e é um importante desafio para os sistemas de saúde e para a sociedade. As formas de demência mais comuns são a doença de Alzheimer (50 a 70% dos casos) e a demência vascular (25 a 35%).

Fibrilhação Auricular

A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia mais frequente em adultos (cerca de 34 milhões a nível mundial) e com previsão de aumentar significativamente nas próximas décadas. A sua prevalência aumenta com a idade e com a presença de diferentes doenças que afetam as estruturas cardiovasculares. A presença de FA aumenta em 5 vezes o risco de AVC isquémico.

Relação FA e Demência

O risco de perda cognitiva e de demência também está relacionado com o avanço da idade. A FA e a demência partilham fatores de risco como a idade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crónica, dislipidemia, obesidade, álcool e estão associadas com aumento relevante da morbilidade e da mortalidade.

Tem sido crescente a evidência científica que associa a FA à DC e à demência. Pacientes com FA, com ou sem AVC prévio, têm maior risco de desenvolver qualquer tipo de demência (cerca de 2 vezes mais),  independentemente da presença dos fatores de risco. Estudos recentes têm salientado o aumento do risco de Alzheimer e de demência vascular (cerca de 3,4 vezes mais) em pacientes com FA, mais jovens do que o esperado, com idades < a 75 anos.

Técnicas de imagem que permitem estudar o cérebro têm contribuído para o conhecimento da relação entre as alterações cerebrais e a FA e neste contexto as alterações mais frequentes encontradas são os “infartos silenciosos” e as “micro hemorragias”.

Mecanismos Fisiopatológicos

Têm sido estudados diferentes mecanismos fisiopatológicos para explicar a relação entre a FA, a DC e a demência:

  • A isquemia cerebral silenciosa, que é duas vezes maior em doentes com FA.
  • A hipoperfusão cerebral, resultado das alterações hemodinâmicas que se observam na FA, traduzidas por uma maior variabilidade sístole a sístole do débito cardíaco, da pressão arterial e da frequência cardíaca.
  • A inflamação, acompanhada de aumento da coagulabilidade e risco de formação de trombos, e maior risco de AVC.
  • A redução da massa cerebral (massa cinzenta e hipocampus) provocada pela hipoperfusão, micro enfartes, micro hemorragias e inflamação.
  • Os fatores genéticos que podem predispor à demência.

Todos estes aspetos têm sido intensamente investigados com o objetivo de encontrar formas de prevenir e tratar a pandemia da demência.

Futuro

É importante aumentar a capacidade de diagnóstico precoce e efetiva da FA para iniciar abordagens terapêuticas eficazes como restabelecer o ritmo sinusal, controlar a frequência cardíaca ou anticoagular. O investimento na prevenção e tratamento dos fatores de risco é crucial em particular da hipertensão arterial, diabetes mellitus, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, dislipidemia e obesidade.

 

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