23 Abr, 2019

“A greve não é um direito para médicos e enfermeiros”, diz Francisco George

Ex-diretor geral de Saúde diz-se "chocado" com as greves dos últimos meses na saúde, elogia Marta Temido e defende a extinção da ADSE.

“Não concordo com paralisações nem de médicos nem de enfermeiros”. Quem é o diz é o ex-diretor geral de Saúde, Francisco George, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença.

“Sou a favor de movimentos grevistas, quando são justos, e sobretudo quando são contra patrões. Acontece que o doente não é o patrão do grevista. E esta é que é a grande diferença. O grevista lesa o patrão, mas quando o grevista é médico ou enfermeiro não está a lesar o patrão, está a lesar o doente“, afirma o atual dirigente da Cruz Vermelha Portuguesa.

“Nenhum doente, a meu ver, devia ser molestado, devia ser desassossegado quando vai a uma consulta e vê que há greve. E depois são mais seis meses. Isto é inaceitável, intolerável no plano de ética que eu observo”, justifica. As greves de médicos e enfermeiros “não fazem sentido, não podem existir”. “No meu entendimento, a greve não é um direito para médicos e enfermeiros”, completou.

Na mesma entrevista, Francisco George defendeu também o fim da ADSE, uma vez que considera existirem condições para  um serviço 100% público. “Hoje temos um serviço que cobre o litoral, o interior, o norte, o sul, as regiões autónomas e os funcionários públicos não são o mesmo. Repare: 600 milhões de euros para pagar a serviços privados prestados pelos médicos que vêm do público e fazem umas horas no privado. Com a agravante de os hospitais privados terem ido buscar os melhores”, critica.

O médico especialista em Saúde Pública elogia a atual ministra da Saúde. “Há poucas mulheres jovens como ela, com capacidade intelectual, de conhecimento, para gerir uma pasta como a da Saúde. Durante três anos em que trabalhámos juntos no Ministério da Saúde, eu como diretor-geral e ela presidente da Administração que geria nove mil milhões de euros por ano, que geriu de forma absolutamente vertical e notável”.

Tiago Caeiro

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